Amigos do Fingidor

quinta-feira, 24 de março de 2011

O conto no Amazonas


Tenório Telles*


O conto, pela força narrativa de autores como Maupassant, Tchekhov, Poe, Machado de Assis, Cortázar, entre outros, tomou-se um dos géneros literários mais cultuados pelos leitores. Não seria descabido afirmar que é a forma literária da contemporaneidade – e que pelas suas características intrínsecas é capaz de expressar de maneira intensa a complexidade de um mundo fragmentado que se traduz não mais por seu conjunto e suas imbricações, mas pelos lampejos de seus fragmentos. Se o romance é uma trama que busca dar conta do mundo em escala ampliada, o conto tem seu foco nos pequenos acontecimentos da vida, no episódico e no que é mínimo da existência humana – é, por isso, revelador dos anseios, derrotas e aspirações do ser humano.

A isso se deve uma das principais dificuldades de quem se dedica à arte do conto: condensar, adensar a trama aos limites dessa forma literária, o que exige perícia e domínio da técnica e da carpintaria de criar histórias. Sendo uma história curta (short story), o conto contém os elementos comuns da narrativa num arco de tempo e espaço limitados. Como esclarece o escritor Zemaria Pinto, “o conto tem uma história bem definida, poucos personagens, tempo e ação muito concentrados, passados num só ambiente”.

O conto no Amazonas é um estudo teórico e prático sobre essa arte narrativa. A singularidade está no fato de o autor utilizar como referencial analítico os escritores representativos da produção contística regional. O texto se constrói a partir de um breve estudo introdutório em que situa o leitor em relação à história do conto, seus conceitos e os mais destacados criadores. Zemaria apresenta um guia de leitura e, ao mesmo tempo, um pequeno manual de iniciação não só para leitores, mas para os que desejarem se aventurar nessa arte.

O capítulo dedicado ao “conto no Amazonas” corresponde à parte prática deste estudo. Zemaria assume a condição de professor e crítico, apresentando aos leitores alguns dos contos mais significativos da literatura que se produz no Amazonas. Inicia seu percurso com a narrativa mítica “Baíra e sua namorada”, originária da mitologia dos índios Cauaiua-Parintintin. Volta-se a seguir para os textos consolidados pela tradição literária, com a apresentação e a análise de histórias de Alberto Rangel, Arthur Engrácio, Benjamin Sanches, Astrid Cabral, Carlos Gomes, Erasmo Linhares e João Pinto. Este livro nasce destinado a ser um guia de viagem – que espero ajude muitos leitores a chegar ao mundo encantado da palavra e da criação literária.


(*) Orelha do livro O conto no Amazonas, de Zemaria Pinto,
que será lançado no próximo sábado, dia 26/03, às 10h00, na livraria Valer.