Amigos do Fingidor

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Medicina na Índia antiga

João Bosco Botelho


É provável que a Medicina na Índia antiga já estivesse sistematizada séculos antes da in-vasão pelos arianos vedas, em torno do ano 2.000 a.C. A suposição é baseada nos estudos ar-queológicos realizados na cidade Mohenjo-Daro, no noroeste da Índia, nas margens do rio Indo. Nessa cidade foram encontradas ruas bem traçadas com rede de esgotos, canalização para água e banhos públicos. Os achados colaboram na confirmação da importância dos cuidados de saúde pública na profilaxia da doenças.

A primeira sistematização da Medicina na Índia antiga está contida no Ayurveda (Veda da Longevidade), escrito em sânscrito e pleno de religiosidade. O texto original comporta mil capítu-los divididos em cem mil versículos ou Shlokas, divididos em Ashtânga, palavra que até hoje é utilizada na Índia como sinônimo de Medicina.

O Ayurveda está dividido em oito capítulos que tratam de diferentes assuntos médicos:

Shalya: cirurgia para retirada de corpo estanho, do feto morto retido intrauterino, drenagem de ferida com pus e a utilização de instrumental cirúrgico;

Shalakya: cirurgia dos olhos, nariz, orelhas e garganta;

Kayacikitsã: terapêutica em geral com mais de oitocentos diferentes tipos de plantas medicinais;

Bhutavidya: ensinamentos que permitem tratar com os espíritos dos mortos, com os demônios e com os doentes que foram possuídos pelos deuses que causam as doenças;

Kaumarabhritya: cuidados dos recém-nascidos e das mulheres grávidas;

Agadatantra: toxicologia, venenos e antídotos;

Rasayana ou Jará: ervas do rejuvenescimento e afrodisíacos;

Vajikarana ou Vrisha: descreve as propriedades dos afrodisíacos.

Ainda segundo os ensinamentos contidos no Ayurveda, as doenças se dividem em três tipos: as curáveis ou Sadhya, as que podem melhorar ou Yapya, e as incuráveis ou Pratyakhyeya. Do mesmo modo, admitem que as doenças sejam consequentes de culpas das vidas anteriores ou Karmaja, e que para curá-las totalmente é indispensável a penitência ou Prayashcitta.

A relação entre a doença e o castigo divino é constante, isto é, as causas das doenças físi-cas estavam vinculadas às transgressões das normas. Alguns desses conceitos sobreviveram no tempo e continuam vivos na atualidade.