Jorge Tufic
II.3
– O VERSO
Originário
de verto (voltar para trás), o verso
pode ser definido como sendo uma linha, “frase ou trecho de frase, cujas
sílabas perfaçam um determinado número formando sistema, em que os acentos
métricos coincidem com os acentos prosódicos” (“Dicionário de Rimas”, Teófilo
Braga, Liv. Lello & Irmão, Porto-Portugal).
“A
classificação dos versos, pelo número de sílabas, é feita por prefixos numerais
gregos: versos dissílabos, trissílabos, tetrassílabos, pentassílabos,
hexassílabos, eneassílabos, decassílabos, hendecassílabos e dodecassílabos
(estes conhecidos como alexandrinos). Os italianos chamam de versos bárbaros os que ultrapassam as doze
sílabas e podem ser: bi-heptassílabo, de quatorze versos, demarcado por uma
pausa (hemistíquio) de sete sílabas (mesmo um alexandrino, de doze sílabas,
pode ter um hemistíquio de seis sílabas); tri-hexassílabo, com dezoito sílabas
e três hemistíquios de seis; tripentassílabo, com quinze sílabas e três
hemistíquios de cinco. O verso, para
gregos e latinos, em seu significado original, era o sulco, a linha, aberto no
campo pelo boi que puxava o arado. Linhas que iam e voltavam, vendo os gregos
aí um paralelo com a sua escrita, da direita para a esquerda, e voltando desta
para a outra, e assim por diante” (“Vocabulário Técnico de Literatura”, Assis Brasil,
Ed. de Ouro, 1979).
“Linha
escrita, de sentido completo ou fragmentário, que se caracteriza pela
obediência a determinados preceitos rítmicos, fônicos, ou meramente gráficos,
pelos quais diferem das linhas de PROSA. No
princípio era o verso – poder-se-ia escrever, começando alguma história
geral das literaturas, e para falar tão só das origens da poesia tem cabimento
o testemunho de Zambadi: “Assim como a gente canta e baila caminhando, assim a
poesia era cantada em seus primórdios e devia acompanhar o ritmo da música”.
Tal asserção permite considerar, sem náusea, a divergência dos padrões poéticos
de uma época para outra e de um lugar para outro, observando que mesmo a música
dos povos árabes, hindus, chineses e japoneses, por exemplo, pouco têm de
semelhante à nossa. Também cabe lembrar que a versificação portuguesa procede
da greco-latina, decerto com os efeitos da influência mourisca na Península
Ibérica, e se até hoje não contamos as sílabas LONGAS e BREVES, entremeando-as
no verso conforme a QUANTIDADE, à maneira dos Aedos e de seus aprendizes do
Lácio, é porque a própria poesia latina acabou abdicando esses cânones e
adotando o esquema silábico-acentual, com outros recursos – RIMA, ALITERAÇÃO
etc. – no período da chamada literatura latino-cristã. Foi esse o tipo de
VERSIFICAÇÃO que ficou nas línguas romances, e foi o que herdamos. Conforme
tenha a sua base morfológica na DURAÇÃO ou QUANTIDADE das sílabas que o
compõem, ou no número delas, ou no esquema de ACENTOS, o VERSO é dito,
respectivamente, QUANTITATIVO, SILÁBICO, ACENTUAL. Os primeiros, quando PUROS,
são denominados de acordo com o número de PÉS ou METROS; quando mistos ou
COMPOSTOS recebem, às vezes, apelidos dos poetas que os inventaram ou
consagraram: ADÔNIO, ALCAICO, ANACREÔNTICO, ARQUILÓQUIO, ARISTIFÂNIO,
ASCLEPIADEU, ELEGIAMBO, ESCAZONTE, FALÉCIO, FERECRÁCIO, GALIAMBO, GLICÔNIO,
ITIFÁLICO, PAREMÍACO, PRIAPEU, SÁFICO, SOTADEU e outros. Os versos SILÁBICOS
são quase sempre nomeados conforme o número de SÍLABAS, havendo também alguns
de apelido especial: REDONDILHA, REDONDILHA MENOR, QUEBRADO ou HERÓICO
QUEBRADO, HERÓICO, GAITA GALEGA, SÁFICO, ARTE MENOR, ALEXANDRINO, TRÍMETRO
ANAPÉSTICO, TETRÂMETRO ROMÂNTICO, HEXÂMETRO IAMBICO, além dos chamados metros
bárbaros que contam mais de doze sílabas. Também se costumam chamar de ARTE
MENOR os VERSOS de sete SÍLABAS ou menos, e de ARTE MAIOR os outros” (“Pequeno
Dicionário de Arte Poética”, Geir Campos, Ed. Conquista).
Não
devemos também esquecer o LINOSIGNO, criado por Cassiano Ricardo, em resposta à
modificação da estrutura linear do verso tradicional pelos poetas de Vanguarda.
O linosigno, de linha (lino) e “signo”, reivindica o espaço do “verso” quebrado,
de linha cruzada, vertical etc. (Vide Jeremias Sem Chorar, do mesmo
autor).
DIDÁTICA
Esta palavra é um cinzeiro
onde pouso meu cigarro;
o cigarro joga a cinza
mas no dedo fica o sarro.
Esta palavra é um cigarro
que se gasta enquanto fumo,
a nada mais se compara
se a fumaça não tem rumo.
Esta palavra é uma cinza,
apenas cinza que espalha
na cor dos dias vindouros
seu gosto amargo de palha.
Esta palavra é palavra,
despojada do seu tema,
vem outra; agora são duas,
terminam juntas o poema.
(“Poesia Reunida”, de Jorge Tufic, Ed. Puxirim, Manaus,
1987).