Jorge Tufic
II.3.3
- A RIMA
As
rimas podem ser classificadas em vários tipos:
·
leonina;
ela ocorre quando tônica, que marca a cesura mais forte, dividindo o verso em
dois segmentos ou hemistíquios, coincide por identidade tonal com a tônica da
palavra final do verso: “por não nos maguarmos
ou mudarmos” (idem);
·
grave;
também chamadas FEMININAS ou PAROXÍTONAS. São rimas com palavras acentuadas na
penúltima sílaba, como no seguinte exemplo que nos dá Geir Campos:
O que me espanta na vida,
a que nunca foi vivida,
não é sabê-la perdida.
É ver que tudo vem dela:
vive nela.
(Emílio
Moura)
·
pobre;
rima com palavras da mesma categoria gramatical, substantivo com substantivo,
advérbio de modo com advérbio de modo, verbo com verbo na mesma pessoa e tempo,
e daí por diante (idem). Ex: “silêncio agora mais fundo/dorme num sono
profundo”;
·
rima
rica é a rima com palavras de categoria gramatical diferente, de substantivo
com adjetivo, verbo ou advérbio: “Azul celeste à parede/Sobre o papel que a
reveste... E é toda a câmara, vede,/Azul celeste”;
·
rima
toante; é a rima que apresenta semelhanças apenas de vogais; chama-se toante,
assoante, imperfeita ou parcial: “Ai, flores, ai flores do verde pino/se sabedes novas do meu amigo?”;
·
rimas
consoantes; soantes, perfeitas ou totais; rima com identidade de tom na sílaba
tônica e na articulação consonantal da sílaba seguinte, sem no entanto ser
idêntica a sílaba de apoio da tônica: “Nasceu pelos calores de janeiro/Às três da madrugada.../E foi
ele o primeiro” (Mário Pederneiras,
ct.por Raul Xavier)
·
rimas
perfeitas; rimas de palavras com identidade fonética na sílaba tônica e na
estrutura consonantal das sílabas subsequentes: “Deixava a pátria e verdade/Ia
morrer de saudade” (ib);
·
rimas
imperfeitas; é o caso ao inverso, como se lê em Arthur Azevedo: “É caso
decidido os doutro sexo:/Não têm, não podem ter na casa ingresso”;
·
rima
anagramática; rima com palavras cuja sílaba tônica é idêntica, sendo, no
entanto, diversa a estrutura silábica: lava, alva; dona, onda;
·
rimas
intercaladas; são as rimas que intercalam uma unidade rítmica em outra, segundo
a estrutura abba bccb cddc, etc. Ex: agas/endo/endo/agas;
·
rimas
internas; são as rimas feitas entre palavras dentro dos versos, como neste
exemplo do “Livro de Sonetos” de Jorge de Lima: “Olhos, olhos de boi
pendidos vertem/prantos por quem se foi.
Ouvidos ouvem,/calam. Crepes enlutam
as janelas./Fundas ouças escutam seus
gemidos”;
·
rimas
cruzadas; as que se distribuem de forma alternada, uma a uma, conforme a
estrutura abab (NNC, obra cit.);
·
rima
peregrina; rima com palavras raras ou de uso invulgar, como marulhos com tortulhos
ou pântanos com espanta-nos, etc;
·
rima
equívoca; é a rima com palavras homônimas, homógrafas, homófonas, que variam de
categoria gramatical, por metassemia
ou mudança de significação: “Chegada a frota ao rico senhorio/Um português
mandado logo parte/A fazer sabedor o
rei gentio/Da vinda sua a tão remota parte”
(Camões), (RX, obra cit.);
·
rimas
exóticas; são rimas com palavras de idioma estrangeiro;
·
rima
erudita; rima com termo do vocabulário científico, filosófico ou de língua
morta (idem). Augusto dos Anjos pode servir como exemplo.
É
bastante extensa, porém, a nomenclatura da Rima, com seus desdobramentos e
novidades. Sua “história”, inclusive, desperta o maior interesse quando ficamos
sabendo que os poetas gregos e latinos demonstravam ser a rima dispensável ao
poema e poemeto, em sua condição de obra de arte feita com palavras. “A rima –
esclarece Raul Xavier – teve sua origem em um complexo processo linguístico,
que se processou desde o primário processo de emissão oral dos fonemas, até os
da sensibilidade estética e intelecção com objetivos sócio-culturais” (...) “A
intenção de exprimir, salientar prosodicamente um motivo, não estaria
divorciada das vozes fonossimbólicas. No latim, observa ainda Marouzeau, “a
pouca variedade de desinências nominais e verbais implicava em algo de
monotonia”. O mesmo latinista assinala que a ocorrência do homeoteleuten no final dos membros simétricos toma o aspecto de
rima, sendo esta um dos elementos do carmen,
acrescentando: “Como o hometeoteleuton,
muitas vezes combinada com ele, a rima redobrada confere ao enunciado tal valor
que ela se encontra, particularmente nos poetas e sobretudo em composições que
tenham de produzir certos efeitos.”
Tal
como as espécies literárias do gênero Poesia, o elenco da Rima, por sua vez,
mobiliza um número considerável de denominações relativas aos seus diversos
manejos: Alguns exemplos apenas: ACATALÉTICA - com palavras paroxítonas; AGUDA
- com vocábulos oxítonos ou monossilábicos; ALEIJADA, ALITERADA, ALOFÔNICA,
AMPLIFICADA, ANTITÉTICA, ARCAICA, ARTIFICIAL, ASSOANTE, BARÍTONA, BISESDRÚXULA,
CAUDADA, COMPLETA, CONSOANTE, CONSONÂNTICA, CONTINUADA, COROADA, CRUZADA,
DATÍLICA, DERIVADA, DISSILÁBICA, DISTANTE, ECOANTE, EM ECO, EMPARELHADA,
ENCADEADA, ENTRELAÇADA, EQUÍVOCA, ERUDITA, EXÓTICA, EXPLETIVA, EXTERNA, FALHA,
FECHADA, FEMININA, FIGURADA, FONÊMICA, GEMINADA, GRAVE, IÂMBICA, ÍMPAR,
ISOSSILÁBICA, LEONINA, etc. etc. etc.
Os
“Dicionários de Rimas”, a exemplo do que citamos alhures, costumam esmerar-se
pela riqueza de informação e excelente metodologia, para o bom desempenho da
consulta. Começam, portanto, com substantivos monossilábicos: À, chá, fá, K,
lá, pá, pá, Sá, xá; e vão, num crescendo: dissílabos, trissílabos,
quadrissílabos e daí para os verbos, substantivos, adjetivos, etc. Vale a pena
ter um, para os momentos de maior dificuldade. A sugestão é válida, pois
somente assim é possível verificar a fertilidade de vocábulos, por exemplo,
terminados em ia, im, osa, or, entre muitos outros.