Jorge Tufic
II.3.1
- O METRO
Metro
é palavra de origem grega. Medida provém do latim. Embora ambas remetam para o
fenômeno prosódico e fonético, há uma diferença: é que metro, na poemática
grega, refere-se a pé, segmento de verso formado por sílabas longas e breves, tomadas em seu valor prosódico tonal. Nos idiomas
neo-românicos, medida refere-se à sílaba, tomada como unidade fonética no
encadeamento silábico do verso. Não havendo, praticamente, nas línguas
românicas, uma distinção entre as sílabas breves e longas, na estruturação dos
versos em português, predomina a medida.
Metro,
portanto, é a medida das sílabas que formam a linha do verso. A contagem das
sílabas métricas - que diferem das sílabas gramaticais ou da escrita prosaica -
chama-se escansão. As regras da escansão, segundo o número de sílabas,
abrange doze espécies de versos, que são: monossílabos, dissílabos,
trissílabos, tetrassílabos, pentassílabos, hexassílabos, heptassílabos,
octossílabos, eneassílabos, decassílabos, hendecassílabos e dodecassílabos.
Conta-se
a sílaba do verso até a última sílaba tônica. Os versos monossílabos têm um só
acento tônico ou predominante: os versos dissílabos têm o acento tônico na
segunda sílaba; nos versos trissílabos o acento predominante cai na terceira
sílaba, com acento secundário, às vezes, na primeira sílaba; os versos trissílabos
são acentuados, frequentemente, na segunda e quarta sílabas; os versos
pentassílabos variam, na acentuação tônica, segundo a cadência dos versos; nos
versos hexassílabos os acentos obrigatórios recaem na sexta sílaba; os
heptassílabos variam de modalidades rítmicas, com acentos na primeira,
terceira, quinta e sétima sílabas; na primeira, terceira e sétima sílabas; na
terceira, quinta e sétima sílabas; na terceira e sétima sílabas; na primeira,
quarta e sétima sílabas; na segunda, quinta e sétima sílabas e na quarta e
sétima sílabas; os versos octossílabos admitem várias combinações rítmicas com
acentuação na oitava sílaba etc; os eneassílabos apresentam acentos tônicos na
terceira, sexta e nona sílabas ou na quarta e nona; os decassílabos comportam
duas modalidades rítmicas: sexta e décima sílabas (verso heróico) e quarta,
oitava e décima sílabas (verso sáfico). Exemplos: “Estavas, linda Inês, posta em sossego, / De teus anos colhendo
o doce fruto” (Camões); “Longe do estéril turbilhão da rua” (Olavo
Bilac); os hendecassílabos levam acentuação fixa na segunda, na quinta e na
décima primeira sílabas ou na quinta e décima primeira, ou ainda, em casos
raríssimos, na terceira, sétima e décima primeira sílabas. Exemplos: “Seus
olhos tão negros, tão belos, tão puros” (Gonçalves Dias); “Nascem as estrelas, vivas, em cardumes
(idem); “As alvas pétalas do lírio de tua alma” (Hermes Fontes). Os dodecassílabos ou alexandrinos admitem
três ritmos diferentes: 1) alexandrino
clássico, com os acentos principais na sexta e décima segunda sílabas.
Exemplo: “paira, grassa em redor,
toda a melancolia/de uma paisagem morta, igual, deserta, imensa” (Vicente de Carvalho); 2) alexandrino moderno, com duas variantes:
a) ritmo quaternário (acentos na quarta, oitava e décima segunda sílabas): “É o
choro surdo, entrecortado, do batuque, / no bate pé que enche de assombro o próprio chão”
(Cassiano Ricardo); b) ritmo ternário (acentos na terceira, sexta, nona e
décima segunda sílabas): “Não me deixas dormir,
não me deixas sonhar” (Cabral do Nascimento). O alexandrino clássico é
formado por dois hemistíquios (= meio verso), ou seja, de dois versos de seis
sílabas, obedientes ás seguintes regras:
1ª)
a última palavra do primeiro hemistíquio só pode ser oxítona ou paroxítona: “E
Cipango verão, fabulosa e opulenta”
(Olavo Bilac);
2ª)
se a última palavra do primeiro hemistíquio for paroxítona, deve terminar em
vogal e embeber-se na primeira sílaba da palavra seguinte, que, para isso,
começará por vogal ou h: “palpita a
natureza inteira, bela e amante” (Vicente de Carvalho) (Achegas da “Nova
Gramática da Língua Portuguesa”, de Domingos Paschoal Cegalla, 20ª edição).
Para
uma boa escansão deve-se ter bem
nítida a lembrança das regras seguintes: a) contar somente até a última tônica
do verso ou linha poética; b) no encontro de duas vogais entre duas palavras
(vogal final + vogal inicial), de acordo com as necessidades do metro usado,
podem ocorrer duas soluções: dá-se a elisão – as vogais se fundem,
constituindo uma única sílaba sonora; ou dá-se o hiato – as duas vogais
se repelem e permanecem independentes. Exemplo:
Como pode o homem
sentir-se a si mesmoquando o mundo some? (CDA)
Palavras
dúbias quanto à contagem silábica: “poeta” pode ter, de acordo com quem a esteja
utilizando, duas sílabas fônicas (poe-ta) ou três (po-e-ta). O mesmo acontece
com a palavra ciúme. Nos “casos controversos” “com o”, “com a”, “com aquelas”,
são às vezes contadas como uma ou duas sílabas, o que é errado, na opinião de
Eno Teodoro Wanke. Nem a propósito, é deste poeta o “conselho”: “Comece
treinando metrificação sem se preocupar com a estética, ou a arte do verso.
Tome trovas ou poemas que lhe agradam e, nesta fase de treinamento, faça
exercício de contagem silábica, procurando imitar ou “responder” aos poemas em
questão. (§) Verá como a “música” do verso começará a fluir de você, deixando
de lado aquela preocupação inicial de contagem. O “modelo” se fixará em sua
mente, e os versos acabarão saindo espontâneos, na medida certa. (§§) A
contagem dos versos pode ser feita com os dedos de uma das mãos, batendo-se na
mesa um dedo (ou dobrando-se o dedo) para cada sílaba. Muitos poetas (eu,
inclusive), quando querem “conferir” o verso fazem isto, automaticamente.”