Amigos do Fingidor

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Curso de Arte Poética

Jorge Tufic

II.3.1 - O METRO


                   Metro é palavra de origem grega. Medida provém do latim. Embora ambas remetam para o fenômeno prosódico e fonético, há uma diferença: é que metro, na poemática grega, refere-se a pé, segmento de verso formado por sílabas longas e breves, tomadas em seu valor prosódico tonal. Nos idiomas neo-românicos, medida refere-se à sílaba, tomada como unidade fonética no encadeamento silábico do verso. Não havendo, praticamente, nas línguas românicas, uma distinção entre as sílabas breves e longas, na estruturação dos versos em português, predomina a medida. 

                   Metro, portanto, é a medida das sílabas que formam a linha do verso. A contagem das sílabas métricas - que diferem das sílabas gramaticais ou da escrita prosaica - chama-se escansão. As regras da escansão, segundo o número de sílabas, abrange doze espécies de versos, que são: monossílabos, dissílabos, trissílabos, tetrassílabos, pentassílabos, hexassílabos, heptassílabos, octossílabos, eneassílabos, decassílabos, hendecassílabos e dodecassílabos.
 
                   Conta-se a sílaba do verso até a última sílaba tônica. Os versos monossílabos têm um só acento tônico ou predominante: os versos dissílabos têm o acento tônico na segunda sílaba; nos versos trissílabos o acento predominante cai na terceira sílaba, com acento secundário, às vezes, na primeira sílaba; os versos trissílabos são acentuados, frequentemente, na segunda e quarta sílabas; os versos pentassílabos variam, na acentuação tônica, segundo a cadência dos versos; nos versos hexassílabos os acentos obrigatórios recaem na sexta sílaba; os heptassílabos variam de modalidades rítmicas, com acentos na primeira, terceira, quinta e sétima sílabas; na primeira, terceira e sétima sílabas; na terceira, quinta e sétima sílabas; na terceira e sétima sílabas; na primeira, quarta e sétima sílabas; na segunda, quinta e sétima sílabas e na quarta e sétima sílabas; os versos octossílabos admitem várias combinações rítmicas com acentuação na oitava sílaba etc; os eneassílabos apresentam acentos tônicos na terceira, sexta e nona sílabas ou na quarta e nona; os decassílabos comportam duas modalidades rítmicas: sexta e décima sílabas (verso heróico) e quarta, oitava e décima sílabas (verso sáfico). Exemplos: “Estavas, linda Inês, posta em sossego, / De teus anos colhendo o doce fruto” (Camões); “Longe do esril turbilhão da rua” (Olavo Bilac); os hendecassílabos levam acentuação fixa na segunda, na quinta e na décima primeira sílabas ou na quinta e décima primeira, ou ainda, em casos raríssimos, na terceira, sétima e décima primeira sílabas. Exemplos: “Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros” (Gonçalves Dias); “Nascem as estrelas, vivas, em cardumes (idem); “As alvas talas do rio de tua alma” (Hermes Fontes). Os dodecassílabos ou alexandrinos admitem três ritmos diferentes: 1) alexandrino clássico, com os acentos principais na sexta e décima segunda sílabas. Exemplo: “paira, grassa em redor, toda a melancolia/de uma paisagem morta, igual, deserta, imensa” (Vicente de Carvalho); 2) alexandrino moderno, com duas variantes: a) ritmo quaternário (acentos na quarta, oitava e décima segunda sílabas): “É o choro surdo, entrecortado, do batuque, / no bate que enche de assombro o próprio chão” (Cassiano Ricardo); b) ritmo ternário (acentos na terceira, sexta, nona e décima segunda sílabas): “Não me deixas dormir, não me deixas sonhar (Cabral do Nascimento). O alexandrino clássico é formado por dois hemistíquios (= meio verso), ou seja, de dois versos de seis sílabas, obedientes ás seguintes regras: 

                   1ª) a última palavra do primeiro hemistíquio só pode ser oxítona ou paroxítona: “E Cipango verão, fabulosa e opulenta” (Olavo Bilac); 

                   2ª) se a última palavra do primeiro hemistíquio for paroxítona, deve terminar em vogal e embeber-se na primeira sílaba da palavra seguinte, que, para isso, começará por vogal ou h: “palpita a natureza inteira, bela e amante” (Vicente de Carvalho) (Achegas da “Nova Gramática da Língua Portuguesa”, de Domingos Paschoal Cegalla, 20ª edição). 

                   Para uma boa escansão deve-se ter bem nítida a lembrança das regras seguintes: a) contar somente até a última tônica do verso ou linha poética; b) no encontro de duas vogais entre duas palavras (vogal final + vogal inicial), de acordo com as necessidades do metro usado, podem ocorrer duas soluções: dá-se a elisão – as vogais se fundem, constituindo uma única sílaba sonora; ou dá-se o hiato – as duas vogais se repelem e permanecem independentes. Exemplo: 

Como pode o homem
sentir-se a si mesmo
quando o mundo some?    (CDA)

                   Palavras dúbias quanto à contagem silábica: “poeta” pode ter, de acordo com quem a esteja utilizando, duas sílabas fônicas (poe-ta) ou três (po-e-ta). O mesmo acontece com a palavra ciúme. Nos “casos controversos” “com o”, “com a”, “com aquelas”, são às vezes contadas como uma ou duas sílabas, o que é errado, na opinião de Eno Teodoro Wanke. Nem a propósito, é deste poeta o “conselho”: “Comece treinando metrificação sem se preocupar com a estética, ou a arte do verso. Tome trovas ou poemas que lhe agradam e, nesta fase de treinamento, faça exercício de contagem silábica, procurando imitar ou “responder” aos poemas em questão. (§) Verá como a “música” do verso começará a fluir de você, deixando de lado aquela preocupação inicial de contagem. O “modelo” se fixará em sua mente, e os versos acabarão saindo espontâneos, na medida certa. (§§) A contagem dos versos pode ser feita com os dedos de uma das mãos, batendo-se na mesa um dedo (ou dobrando-se o dedo) para cada sílaba. Muitos poetas (eu, inclusive), quando querem “conferir” o verso fazem isto, automaticamente.”