Tainá Vieira
Hoje, amanheci com uma saudade danada
de ti, poeta. Por mais que eu não fosse lá te ver, por mais que hoje eu não te
ligasse para saber notícias tuas, ainda sim, eu teria certeza da tua presença perto
da gente. Com certeza à noite quando chegasse a casa, cansada da aula, eu teria
notícias das tuas rabugices, saberia das exigências que tinhas feito, se tinhas
um novo xingamento para algum cuidador. Ou se simplesmente (como raras vezes),
tu terias tido um dia maravilhoso, terias saído para almoçar fora, comido a
comida da tua preferência, tomado o vinho mais caro, como gostavas de te
exibir, e até fumado um cigarro – e para completar, aquele cafezinho ao teu
gosto... Ah, seu poeta sacana, porque não aguentaste só mais um pouco, porque
deste a mão a ela, porque não mandaste ir para um lugar bem distante de ti, como
fazias com os idiotas que te enchiam o saco. Por quê?! Não sabias que ias
deixar tanta saudade?! Sabias sim, tu sabias bem, que ias deixar muita saudade,
e só o que resta agora é ler os teus livros e lembrar-se da daquele teu
sorriso sacana, sedutor e charmoso de solitário mandão... E o que eu mais
gostava era aquele sorriso pós-barba, que te deixava com a face de Dorian Gray
sem maldade. Como não lembrar tudo isso? Se tudo isso está cravado na minha
memória como o amor no coração. Queria tanto te esquecer, mas não consigo,
parece que ficaste impregnado em mim, como um poema de Baudelaire. Hoje,
amanheci com uma saudade danada de ti, poeta.