Amigos do Fingidor

segunda-feira, 18 de março de 2013

Angelim-pedra



David Almeida

Os povos, a sociedade, as cidades, o mundo, giram em torno das tendências criadas pela tal globalização, que favorece com os seus temperos, mais ainda, o ilusionismo capitalista, que cada vez mais robotiza a humanidade.

Sob a batuta das tendências os mais espertos manipulam a massa, e amassam a massa, e, espremem a massa, até a massa ficar massa.

Agora as tendências, dentre outras, é a preservação da natureza, tendência essa que não sai do papel e dos discursos inflamado dos criadores das ONGS – não são todas, claro - e aí, muito dinheiro é preservado nos bolsos de quem levanta essa bandeira.

A gente olha pra todos os lados e não vê preservação, os nossos igarapés estão todos poluídos, as margens do rio Negro também. Mas nem tudo está perdido, se tivermos vontade mudamos esse cenário e o mundo. Contido desse tema fui fazer uma visita à Reserva Adolpho Duque.    

Dentre muitas coisas boas existentes lá, uma chamou-me mais atenção: em uma de suas trilhas deparei-me com uma árvore imensa, frondosa, bonita, que nunca tinha visto. Só conhecia por nome. Fiquei maravilhado com tanta beleza. Pus-me a seus pés, e olhei para cima, tive a sensação de estar na terra dos gigantes. Seus galhos em performance perfeita pareciam entrelaçarem-se, alongando-se no céu azul.

Sob tamanha grandeza, vivendo em um mundo onde a violência está em todo lugar, me senti por momentos protegido; seguro, e, sob sua sombra pensei: aqui ninguém me toca! Mas, a realidade me tocou, e lembrei que a ganância do homem em busca de riqueza e ostentação o cega, passando por cima da própria vida.   

Quantas e quantas arvores dessas, já não viraram cinza, fumaça, carvão ou um (i)móvel frio e quadrado dentro de uma morada humana? Simplesmente adornando vaidades, que sadicamente sorriem de orgulho e satisfação dizendo: “olha, é de madeira de lei”.

Depois percebi que eu estava em uma área protegida; a Reserva Adolpho Duke. Aí respirei fundo, mas voltei a pensar: até quando essa reserva vai ser reserva? Quem vai impedir o tal progresso ditado por um capitalismo selvagem, que transforma tudo em produto, e, como um rolo compressor passa por cima de qualquer coisa, na famigerada corrida por lucro e poder? Bem, preferi curtir aquele momento tão cheio de amor pela vida, que fez minha emoção abraçar aquela arvore imensa, majestosa, bela, e ter certeza da minha razão de viver, e lutar pela vida; da certeza que o homem é a própria natureza que toma consciência de si próprio e por si só pode destruir-se.

Amar a vida é cuidar da natureza para garantir o futuro da nossa existência. Derrubar uma arvore é plantar a escassez de vida nesse planeta ainda azul. Preservar uma arvore é manter a sombra pelos caminhos da vida; é cuidar da fonte, onde a água rega a vida, para povoar rios, selvas, terras e mares.

Debaixo dessa arvore a reflexão bateu como um relâmpago, reativando meu cérebro, iluminando o pensamento, clareando o que a modernidade, o progresso, a correria em busca por “dias melhores” tinha quase apagado. E várias cenas na minha lembrança vieram à tona, coisas que vi, que fiz e que poderia intervir para não acontecer, mas deixei passar, por simples desconhecimento da importância, que é, para todos nós, para o futuro da humanidade, o cuidar do meio ambiente. Nas escolas por onde passei nunca tocaram no assunto. Eu a olhei de novo com um ar de desculpas, mas, como se fosse minha irmã, minha mãe, meu pai, minha família, relutei em deixá-la, contudo, antes de me despedir, quis saber do seu nome, e alguém me falou que era um angelim-pedra, com mais ou menos 400 anos, e, uns 45 metros de altura.