David Almeida
Os povos, a sociedade, as cidades, o mundo,
giram em torno das tendências criadas pela tal globalização, que favorece com
os seus temperos, mais ainda, o ilusionismo capitalista, que cada vez mais
robotiza a humanidade.
Sob a batuta das tendências os mais espertos
manipulam a massa, e amassam a massa, e, espremem a massa, até a massa ficar
massa.
Agora as tendências, dentre outras, é a
preservação da natureza, tendência essa que não sai do papel e dos discursos inflamado
dos criadores das ONGS – não são todas, claro - e aí, muito dinheiro é
preservado nos bolsos de quem levanta essa bandeira.
A gente olha pra todos os lados e não vê
preservação, os nossos igarapés estão todos poluídos, as margens do rio Negro
também. Mas nem tudo está perdido, se tivermos vontade mudamos esse cenário e o
mundo. Contido desse tema fui fazer uma visita à Reserva Adolpho Duque.
Dentre
muitas coisas boas existentes lá, uma chamou-me mais atenção: em uma de suas
trilhas deparei-me com uma árvore imensa, frondosa, bonita, que nunca tinha
visto. Só conhecia por nome. Fiquei maravilhado com tanta beleza. Pus-me a seus
pés, e olhei para cima, tive a sensação de estar na terra dos gigantes. Seus
galhos em performance perfeita pareciam entrelaçarem-se, alongando-se no céu azul.
Sob
tamanha grandeza, vivendo em um mundo onde a violência está em todo lugar, me
senti por momentos protegido; seguro, e, sob sua sombra pensei: aqui ninguém me
toca! Mas, a realidade me tocou, e lembrei que a ganância do homem em busca de
riqueza e ostentação o cega, passando por cima da própria vida.
Quantas
e quantas arvores dessas, já não viraram cinza, fumaça, carvão ou um (i)móvel
frio e quadrado dentro de uma morada humana? Simplesmente adornando vaidades,
que sadicamente sorriem de orgulho e satisfação dizendo: “olha, é de madeira de
lei”.
Depois
percebi que eu estava em uma área protegida; a Reserva Adolpho Duke. Aí
respirei fundo, mas voltei a pensar: até quando essa reserva vai ser reserva?
Quem vai impedir o tal progresso ditado por um capitalismo selvagem, que
transforma tudo em produto, e, como um rolo compressor passa por cima de
qualquer coisa, na famigerada corrida por lucro e poder? Bem, preferi curtir
aquele momento tão cheio de amor pela vida, que fez minha emoção abraçar aquela
arvore imensa, majestosa, bela, e ter certeza da minha razão de viver, e lutar
pela vida; da certeza que o homem é a própria natureza que toma consciência de
si próprio e por si só pode destruir-se.
Amar a
vida é cuidar da natureza para garantir o futuro da nossa existência. Derrubar
uma arvore é plantar a escassez de vida nesse planeta ainda azul. Preservar uma
arvore é manter a sombra pelos caminhos da vida; é cuidar da fonte, onde a água
rega a vida, para povoar rios, selvas, terras e mares.
Debaixo
dessa arvore a reflexão bateu como um relâmpago, reativando meu cérebro,
iluminando o pensamento, clareando o que a modernidade, o progresso, a correria
em busca por “dias melhores” tinha quase apagado. E várias cenas na minha
lembrança vieram à tona, coisas que vi, que fiz e que poderia intervir para não
acontecer, mas deixei passar, por simples desconhecimento da importância, que
é, para todos nós, para o futuro da humanidade, o cuidar do meio ambiente. Nas
escolas por onde passei nunca tocaram no assunto. Eu a olhei de novo com um ar
de desculpas, mas, como se fosse minha irmã, minha mãe, meu pai, minha família,
relutei em deixá-la, contudo, antes de me despedir, quis saber do seu nome, e
alguém me falou que era um angelim-pedra, com mais ou menos 400 anos, e, uns 45
metros de altura.