Amigos do Fingidor

quinta-feira, 21 de março de 2013

Tigre no Espelho – Análise da obra 2/6


Zemaria Pinto


Unidade temática


Tigre no Espelho tem a literatura como referência em dez de suas doze narrativas. As exceções são para “Antes que se apague”, onde não há qualquer menção à literatura, e “As tias”, no qual o único relacionamento que se faz é com o fato do personagem Avelar ser chamado de poeta. Mas essa classificação é simplista e óbvia. Acima relacionamos os títulos com características metalinguísticas. Em todos eles o leitor poderá observar que há uma preocupação explícita com o fazer literário. Se a eles juntarmos o conto “Antes que se apague”, que mostra um recorte da vida de um escultor, ampliaremos essa observação: teremos a problematização do ato de criar, de fazer arte, e não apenas literatura. Esse é o tema predominante do livro, presente em três quartos das narrativas: a criação problematizada, posta em dúvida. 

O outro quarto circunscreve-se à literatura como simples referência (“Você é testemunha, Ulisses” e “A Condessa”, além do isolado “As tias”). Ocorre que “A Condessa” foi “escrito” pelo personagem-narrador de “Aranha tece a teia” e “Meu contrato milionário”, o que o coloca como parte integrante do processo metalinguístico e, consequentemente, da problematização do ato de criar, aumentando, assim, o número de narrativas sobre o tema para dez.  

Podemos ainda anotar um subtema, também de cunho metalinguístico, desenvolvido em três narrativas: a busca do motivo para escrever. O leitor poderá observar isso em “Aranha tece a teia”, “Anotações para um conto” e “Meu contrato milionário”.
 

Estilo
 

Pelo menos cinco das doze narrativas de Tigre no Espelho são facilmente classificáveis quanto ao estilo: “Tigre no espelho”, “A velha Remington”, “A barata”, “Anotações para um conto”, e “Por que não matei Olga?”. O leitor deve observar as situações inusitadas, nas quais a fábula invade a realidade ou vice-versa. O motivo condutor desse procedimento está explícito no mote “nada é mais real do que o sonho”, dito por um personagem de “Tigre no espelho” e repetido por outro de “A barata”. A esse estilo, no qual os acontecimentos contrariam a lógica e as mais elementares leis da física, e as fronteiras entre o real e o imaginário desaparecem, convencionamos chamar de “realismo fantástico”.