Zemaria Pinto
Unidade temática
Tigre no Espelho tem a literatura como referência em dez de suas doze narrativas.
As exceções são para “Antes que se apague”, onde não há qualquer menção à
literatura, e “As tias”, no qual o único relacionamento que se faz é com o fato
do personagem Avelar ser chamado de poeta. Mas essa classificação é simplista e
óbvia. Acima relacionamos os títulos com características metalinguísticas. Em
todos eles o leitor poderá observar que há uma preocupação explícita com o
fazer literário. Se a eles juntarmos o conto “Antes que se apague”, que mostra
um recorte da vida de um escultor, ampliaremos essa observação: teremos a
problematização do ato de criar, de fazer arte, e não apenas literatura. Esse é
o tema predominante do livro, presente em três quartos das narrativas: a
criação problematizada, posta em dúvida.
O outro quarto
circunscreve-se à literatura como simples referência (“Você é testemunha,
Ulisses” e “A Condessa”, além do isolado “As tias”). Ocorre que “A Condessa”
foi “escrito” pelo personagem-narrador de “Aranha tece a teia” e “Meu contrato
milionário”, o que o coloca como parte integrante do processo metalinguístico
e, consequentemente, da problematização do ato de criar, aumentando, assim, o
número de narrativas sobre o tema para dez.
Podemos ainda anotar um
subtema, também de cunho metalinguístico, desenvolvido em três narrativas: a
busca do motivo para escrever. O leitor poderá observar isso em “Aranha tece a
teia”, “Anotações para um conto” e “Meu contrato milionário”.
Estilo
Pelo menos cinco das doze
narrativas de Tigre no Espelho são
facilmente classificáveis quanto ao estilo: “Tigre no espelho”, “A velha
Remington”, “A barata”, “Anotações para um conto”, e “Por que não matei Olga?”.
O leitor deve observar as situações inusitadas, nas quais a fábula invade a
realidade ou vice-versa. O motivo condutor desse procedimento está explícito no
mote “nada é mais real do que o sonho”, dito por um personagem de “Tigre no
espelho” e repetido por outro de “A barata”. A esse estilo, no qual os
acontecimentos contrariam a lógica e as mais elementares leis da física, e as
fronteiras entre o real e o imaginário desaparecem, convencionamos chamar de “realismo
fantástico”.