Amigos do Fingidor

terça-feira, 12 de maio de 2015

Bonitinho agora é “Seu” Charles



Pedro Lucas Lindoso


Charlezinho da Compensa é um caboclo valoroso. Passou em concurso público nacional para uma agência reguladora federal, com sede em Brasília. Filho de dona Jurandilza, que tem esse nome porque é filha de Jurandir e Ilza, Charlezinho pratica jiu-jítsu, estuda muito, joga futebol e namora bastante, além de tocar violão. As garotas da Compensa dizem que ele é bonitinho. E o apelido pegou. Bonitinho foi então, convocado para fazer treinamento no Distrito Federal. O voo marcado para as 2:40 não foi empecilho para que todo mundo fosse levar o Bonitinho ao Aeroporto Eduardo Gomes. Além de seus pais, e avós, os três irmãos, a vizinha solteirona e duas amigas, quatro outros vizinhos, o professor de jiu-jítsu e três colegas, Dona Francisquinha, orgulhosa professora particular do Charlezinho e o marido, cinco primos, duas ex-namoradas e a atual, que se chama Kathyenny, com k e y, que levou os pais e dois irmãos. Enfim, uma comitiva de 23 pessoas se deslocou da Compensa ao aeroporto para despedir-se de Bonitinho rumo ao Distrito Federal. Uma viagem para treinamento e ao final, tomar posse no almejado emprego público. Uma Kombi, dirigida por Seu Jurandir, e mais quatro carros levaram todos ao aeroporto. Dona Jurandilza estava muito nervosa. Enquanto terminava de arrumar a maleta do filho houve um apagão na cidade. A Kathyenny não parava de perturbar. Bonitinho estava muito ansioso porque seria a sua primeira viagem de avião. E não podia mostrar-se medroso perante seus colegas de jiu-jítsu, que já haviam viajado de avião para campeonatos no sudeste. A namorada Kathyenny não parava de chorar. Dona Jurandilza já estava sem paciência. Ele volta em um mês. Mas quando Bonitinho entrou para a sala de embarque, Kathyenny deu um grito e desmaiou. Um vexame. Ainda bem que ele já estava lá dentro e nem viu a leseira da namorada. Em Brasília, Bonitinho ficou hospedado no Guará, na casa do tio Ilzajur, irmão de dona Jurandilza. Os primos brasilienses receberam Bonitinho com alegria. Levou isopor com tambaqui, pirarucu, farinha do uarini, pimenta murupi e dois litros de guaraná baré. Foi uma festa. Charlezinho ia de metrô para o treinamento na agência. Pensou que se houvesse um metrô ligando a Compensa até o Distrito, via Centro, e outra linha ligando o Centro à Cidade Nova e Zona Leste, Manaus seria outra cidade. Visitou a Catedral, o Congresso, a Praça dos Três Poderes e o Memorial JK. Tudo postado com fotos pelo Instagram e Facebook. Os primos o levaram ainda até o Palácio da Alvorada. Bonitinho jogou uma moeda no poço que fica em frente. E perguntou com quem ficavam aquelas moedas. Ninguém soube responder. Para a presidenta é que não é. Noite de sexta, Bonitinho foi a um forró em Ceilândia. Fez sucesso com uns passos de forró que só os amazonenses sabem fazer. Terminado o treinamento, Bonitinho retornou para Manaus. Já empossado como servidor público federal da agência reguladora, mas lotado em Manaus. Charlezinho gostou muito de Brasília. Certamente não troca a capital por Manaus. Em julho faz muito frio. O clima é muito seco. Lá não se encontra farinha ovinha e nem pimenta murupi. A única tacacazeira é na feira da torre de TV. E nem amazonense ela é. E voltou de Brasília para a Compensa, feliz da vida. Na segunda seguinte deu expediente na superintendência aqui em Manaus. Semana passada casou-se com sua amada Kathyenne, grávida de dois meses. Charlezinho da Compensa, o Bonitinho, é coisa do passado. Casados e felizes “Seu” Charles e Dona Kathyenne foram morar em condomínio no Tarumã.