Amigos do Fingidor

sábado, 9 de maio de 2015

Sem o chinelo na mão e o avental sujo de ovo



David Almeida

Com a chegada do dia das mães – 10 de maio – as mensagens na rede mundial de computadores têm “bombado.” Os e-mails vão chegando com os mais diversos tipos de cartões virtuais, cheios de arranjos, flores, decorações das mais inusitadas, acompanhadas de musicas tristes, melancólicas, bucólicas, te arremetendo a um clima de funeral. Dá vontade de chorar. E se você lê dois cartões virtuais desses com certeza vai entrar em “deprê.” E pra reverter esse quadro, vai ter que gastar um dinheirinho no consultório do Dr. Rogélio Casado.
Qual o porquê das músicas, poemas e textos que falam de Mãe – não são todas, claro, mas a maioria – trazerem esse tom cinza, quase preto de emoldurar tristeza? Mãe é o amor que rega a essência da vida. Mãe é o sol que clareia os primeiros passos das manhãs. Mãe é a lua abraçando a escuridão da noite clareando as estrelas.
Mãe nunca foi símbolo de fraqueza, nem tão pouco sexo frágil. Mãe nos abre a porta do mundo. Mãe também não é tudo, mas de tudo pode fazer por nós.
A mulher evoluiu, passou por cima do machismo histórico que lhe colocava num plano inferior ao do homem; o casulo da opressão e submissão em que se encontrava abriu-se, e ela saiu voando bem alto; não é mais a rainha do lar. É a rainha do mundo. O chinelo na mão estava em lugar errado, o avental todo sujo de ovo deve estar fossilizado, perdido, em alguma cozinha do passado, pendurado no pescoço de uma mãe, que não se encaixa mais nos padrões da vida atual.
Apesar de gostar da música “Ai, que saudade da Amélia”, do ator e compositor Mário Lago e Ataulfo Alves, a Amélia que era a mulher de verdade daquele tempo, que achava bonito não ter o que comer, na verdade, morreu de fome, não conseguiu chegar até aqui. O que se encaixa mais aos tempos de hoje é a Maria subindo o morro com a lata d’água na cabeça, portanto, tá mais próxima da fibra de muitas Marias, que, no peito e na raça, sobrevivem firmes, sobre o terreno íngreme, escorregadio de uma sociedade injusta.
A mãe do século XXI não morre de fome, muito pelo contrário, acumula serviços, pois cuida dos filhos, da casa e está profissionalmente preparada na disputa por um lugar ao sol no mercado de trabalho com o homem.
A mãe, que acreditava em Chapeuzinho Vermelho, se perdeu no tempo, pelos caminhos, em busca da casa da vovozinha, e o Lobo Mau, esquecido, não passa de um vira-lata “pirento” e desempregado, vagando pelas sarjetas e calçadas gélidas de um machismo que ainda agoniza, tentando ser um lobo do bem.    
Essa mãe que chega descrita nos cartões virtuais, na rapidez dessa convergência de mídias, analisada friamente, é um produto sem conteúdo, embalado simplesmente, com o intuito de causar muita emoção, amolecer os corações e gerar lucro para um sistema extremamente egoísta, que nos faz ter um sentimento de pena pelas nossas mamães.
Estamos vivendo o tempo em que Mães são chefes de estado de vários países do mundo. Maria que apanhava, virou Maria da Penha, e tantas outras que lutaram e lutam pela moral, pela ética e respeito feminino.  

Mãe é motivo de alegria todos os dias. Mas, o que fazer? O segundo domingo de maio é a festa maior delas. É o dia dedicado às mamães. São homenagens, o reconhecimento de quem dá a vida pela vida, de quem tem a força, energia, inteligência, amor e paz para transformar o mundo. Que bom te ver assim Mãe: sem o chinelo na mão e o avental todo sujo de ovo.