Amigos do Fingidor

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Prosa & Panela – 4



                                                                                 Tainá Vieira


Quando o passarinho ainda não consegue voar para procurar a sua comida, sua mãe vai e traz no bico pra ele.  Uma mãe sempre está disposta a fazer tudo pela sua cria. O ser humano desde o ventre já tem contato com alimento: segundo a ciência é em torno da décima quarta semana de gestação que o paladar do bebê começa a se desenvolver. A placenta captura os nutrientes do sangue da mãe e os transporta para o bebê, este fica imerso no liquido amniótico; esse fluido fica aromatizado pelos alimentos e bebidas que a mãe comeu nas últimas horas. E no último trimestre de gravidez não só o aroma, o bebê passa a ingerir esse liquido também, ou seja, come o que a mãe comer, é por isso que a grávida tem de ter todo cuidado com a sua alimentação.
A gente sempre encontra alguém que vai nos dizer, quando estivermos grávidas, que todo desejo é o bebê que esta pedindo algo e que tudo o que a mãe comer em demasia o bebê, quando estiver do lado de cá, irá comer também. Eu acho que tem um fundo de verdade nisso, no meu caso, eu comia muita tapioca e hoje minha filha é louca por tapioca, come todos os dias. Mas antes de qualquer alimento, o bebê tem de se alimentar exclusivamente, até os seis meses, somente do leite materno; depois dos seis meses pode começar a apresentar frutas, sucos e papinhas de verduras e legumes e ainda deve continuar o aleitamento materno até aos dois anos de idade ou até quando a mãe puder e quiser.  É lindo isso né, quando funciona. Hoje em dia o que mais se vê nas redes sociais são páginas, blogs, comunidades que incentivam, instruem sobre o aleitamento materno. É uma causa nobre que vem ganhando bastante repercussão na mídia, porque envolve muitos fatos importantes. Toda mãe tem o direito de amamentar o seu bebê em qualquer lugar, publico ou privado, a hora que quiser, sem ser constrangida, sim, pois há muitas pessoas que não concordam que as mães amamentem em publico.
Portanto o leite materno é oficialmente o primeiro alimento do bebê, só depois dos seis meses é que ele vai conhecer outros sabores, cores, texturas. A minha filha mamou o meu leite só o primeiro mês de vida, isso ocorreu por inúmeros fatores que não cabem aqui, tomou fórmula e aos quatro meses ela já tinha contato com sucos, frutas e legumes, por isso hoje, com um ano e dois meses, ela tem uma dieta bastante saudável e come de tudo, digo, tudo o que é saudável. Parece tão natural dar alimento a uma criança que todo mundo consegue fazer, mas não é bem assim, não é apenas pegar um alimento qualquer e dar ao bebê, já disse que os alimentos têm vida, sexo, personalidade, eles têm o seu lado bom e o seu lado ruim, como nós seres humanos, por isso quando a criança é bem novinha, ao introduzir alimentos novos tem que dar o mesmo alimento três dias consecutivos, para observar se o bebê não tem reação alérgica. Quando o bebê já puder segurar o alimento como uma fruta e ou até mesmo um pedaço de batata ou cenoura cozida, por exemplo, é bom deixar que ele toque, sinta o alimento. É claro que ele vai amassar, esmagar e sujar tudo antes de comer, mas não tem problema, isso tudo é descoberta, faz parte do processo de desenvolvimento do ser humano. Há casos de crianças cujas mães não deixavam pegar, esmagar, meter a mão mesmo na comida, por conta da sujeira que fica, que cresceram adultos frustrados porque foram privados desse prazer; tocar a comida, acariciar, olhar é prazer, comer é a última coisa que se faz. Tem que sentir prazer não só em comer a comida. Crianças que comem vendo televisão, celular e não prestam atenção no alimento que estão comendo, quando adulto agirão da mesma forma. O ato de comer para essas pessoas é algo mecânico, quase que banal. Pessoas que comem assim fazem parte do grupo dos “comedores velozes”, estão sempre apressadas, não dão importância no que estão comendo, comem qualquer coisa que lhes oferecem e nem se preocupam com o modo que a comida foi preparada. E há o grupo dos “comedores lentos”. Primeiro admiram o prato, sentem o cheiro, tocam e por fim, comem. Segundo o livro A Vida Sexual dos Alimentos, a maneira como uma pessoa come, reflete no modo como ela vive e age. Por exemplo, os comedores velozes e os comedores lentos, são exatamente assim em relação ao sexo. E não é só na cama, mas também no modo como tratam as pessoas ou falam. Temos que ensinar nossos filhos a tratar os alimentos com respeito, pois ninguém vive sem comida, é uma troca.
Quando o passarinho começar a alçar voo e sair à procura do seu próprio alimento, ele pode escolher o que quiser comer, já não tem que aceitar tudo o que a mãe pássaro lhe oferece; no entanto, ele já conhece inúmeros sabores que foram apresentados por sua mãe. Às vezes ele até prefere alimentos que seus pais nem gostam, assim acontece com as crianças também. Minha filha adora melão e morango, eu já não gosto. Ela come bem mais frutas e legumes do que eu. E trata os alimentos com carinho. Minha filha não gostava do meu leite e eu não gostava de amamentar. Já fui julgada por isso, mas não sofro com isso. Descobri há pouco tempo que também não mamei o leite de minha mãe, mas não uso isso como justificativa em relação à minha filha. Insisto em dizer: eu não gostei de amamentar! E também não me culpo por isso, todos os dias eu cozinho para a minha filha e todos os dias ela come a melhor comida do mundo.