Amigos do Fingidor

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Quedas em Paris



Pedro Lucas Lindoso

Está em cartaz um interessante musical, concorrente ao Oscar deste ano, La La Land. A bela Emma Stone, no papel de Mia, trabalha num café dentro dos estúdios da Warner e sonha em se tornar atriz. Numa das falas a personagem comenta que uma tia, passando uma temporada em Paris, caiu no Sena. Li recentemente uma crônica do Luís Fernando Veríssimo em que ele ressalta a coincidência de uma antiga crônica sua que parece ter sido inspirada na história do filme. Só que o texto de Luís Fernando Veríssimo é de 2009.
Na tal crônica de Veríssimo, “tia Belinha tinha ido sozinha a Paris e lá conhecera um conde francês, ligeiramente arruinado e ligeiramente maluco, com quem tivera um tórrido caso de Verão. Numa noite quente, dançando numa margem do Sena, depois de muitos copos de champanhe, os dois tinham tropeçado e...”
Achei a coincidência fantástica. Eu também tive uma tia que deu uma queda em Paris. Infelizmente não foi no rio Sena e também foi uma pena que não houvesse um conde francês. Mas triste ainda é que ela sonhou a vida toda em conhecer Paris. Já idosa, conseguiu finalmente realizar seu desejo de toda uma existência. Nem precisaria ter ido lá. Conhecia Paris como ninguém. Pelas fotos, livros, pela literatura, pelas canções de Edith Piaf. Podia descrever a torre Eiffel e o Arco do Triunfo como ninguém. Falava da Catedral de Notre Dame e da Basílica de Sacre Coeur como se tivesse assistido a centenas de missas por lá. Não conheci ninguém mais familiarizada com o Champs-Élyseés e os Jardins de Luxembourgo. Sabia de cabeça todas as salas do Louvre onde estavam localizadas as obras mais famosas. Sem contar o fato de que falava francês como uma verdadeira parisiense.
Pois bem. O destino dessa tia não poderia ter sido mais trágico. Estudou com professores franceses no início do século vinte, num conceituado internato em Belém. Depois estudou Química numa faculdade administrada por franceses, também no Pará. Como já disse, sua pronúncia era de uma verdadeira parisiense.
Era muito bonita, inteligente e preparada. Voltou para Manaus e se apaixonou por um político importante que governou o Estado do Amazonas por muitos anos. Nos anos cinquenta refugiou-se no Rio de Janeiro. Por um tempo lecionou francês na Aliança Francesa. Revisava os textos do namorado senador, que além de político era escritor e imortal.
Sua queda em Paris foi preocupante e mobilizou a família inteira. Uma amiga que fazia um curso por lá, localizou-a num hospital francês. Retornou ao Brasil debilitada, sem ter curtido Paris como merecia. Uma lástima.
Minha tia não caiu no rio Sena como a personagem de Veríssimo e a tia de Mia do filme La la land. Mas não deixou de ter um romântico toque parisiense. Titia teria caído em Montmartre. Bairro boêmio de Paris onde há charmosas ruas de paralelepípedos, causadores da queda.