Pedro Lucas Lindoso
Está em cartaz um interessante
musical, concorrente ao Oscar deste ano, La
La Land. A bela Emma Stone, no papel de Mia, trabalha num café dentro dos
estúdios da Warner e sonha em se tornar atriz. Numa das falas a personagem
comenta que uma tia, passando uma temporada em Paris, caiu no Sena. Li
recentemente uma crônica do Luís Fernando Veríssimo em que ele ressalta a
coincidência de uma antiga crônica sua que parece ter sido inspirada na
história do filme. Só que o texto de Luís Fernando Veríssimo é de 2009.
Na tal crônica de Veríssimo, “tia
Belinha tinha ido sozinha a Paris e lá conhecera um conde francês, ligeiramente
arruinado e ligeiramente maluco, com quem tivera um tórrido caso de Verão. Numa
noite quente, dançando numa margem do Sena, depois de muitos copos de
champanhe, os dois tinham tropeçado e...”
Achei
a coincidência fantástica. Eu também tive uma tia que deu uma queda em Paris.
Infelizmente não foi no rio Sena e também foi uma pena que não houvesse um
conde francês. Mas triste ainda é que ela sonhou a vida toda em conhecer Paris.
Já idosa, conseguiu finalmente realizar seu desejo de toda uma existência. Nem
precisaria ter ido lá. Conhecia Paris como ninguém. Pelas fotos, livros, pela
literatura, pelas canções de Edith Piaf. Podia descrever a torre Eiffel e o
Arco do Triunfo como ninguém. Falava da Catedral de Notre Dame e da Basílica de
Sacre Coeur como se tivesse assistido a centenas de missas por lá. Não conheci
ninguém mais familiarizada com o Champs-Élyseés e os Jardins de Luxembourgo. Sabia
de cabeça todas as salas do Louvre onde estavam localizadas as obras mais
famosas. Sem contar o fato de que falava francês como uma verdadeira
parisiense.
Pois
bem. O destino dessa tia não poderia ter sido mais trágico. Estudou com
professores franceses no início do século vinte, num conceituado internato em
Belém. Depois estudou Química numa faculdade administrada por franceses, também
no Pará. Como já disse, sua pronúncia era de uma verdadeira parisiense.
Era
muito bonita, inteligente e preparada. Voltou para Manaus e se apaixonou por um
político importante que governou o Estado do Amazonas por muitos anos. Nos anos
cinquenta refugiou-se no Rio de Janeiro. Por um tempo lecionou francês na
Aliança Francesa. Revisava os textos do namorado senador, que além de político
era escritor e imortal.
Sua
queda em Paris foi preocupante e mobilizou a família inteira. Uma amiga que
fazia um curso por lá, localizou-a num hospital francês. Retornou ao Brasil
debilitada, sem ter curtido Paris como merecia. Uma lástima.
Minha
tia não caiu no rio Sena como a personagem de Veríssimo e a tia de Mia do filme
La la land. Mas não deixou de ter um romântico toque parisiense. Titia
teria caído em Montmartre. Bairro boêmio de Paris onde há
charmosas ruas de paralelepípedos, causadores da queda.