Amigos do Fingidor

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Quem está na chuva...



Pedro Lucas Lindoso


Há muito tempo não ouvia a palavra bisbilhotar. Minha avó usava muito esse vocábulo. Detestava pessoas que andavam em mexericos e intrigas. Dizia que não devemos bisbilhotar a vida dos outros.
Almir Coimbra, meu professor do antigo ginásio em Brasília, gostava de usar a palavra mexericar. Achava eu que era um termo bem brasileiro. Mas não! Professor Coimbra quando queria fazer uma fofoca citava Eça de Queirós em O Primo Basílio: “A vizinhança já se punha a mexericar, a comentar. Um escândalo!” E então contava seu mexerico. Uma figura, o professor Coimbra! Era professor de Desenho. Fizeram uma reforma educacional e acabaram com a disciplina. Foi introduzida Educação Moral e Cívica. O professor desgostoso aposentou-se e foi mexericar no Rio de Janeiro.
Em Portugal, além de mexericar, usa-se muito a expressão coscuvilhar. Raramente os portugueses usam a palavra fofoca. Essa sim,  é definitivamente uma palavra brasileira. Fuxico também é palavra nossa.
Nas cidades pequenas, nos burgos medievais, a fofoca corria solta. Todos davam conta da vida alheia. Hoje, na era da informática, do weakleaks e do facebook, nada mudou. Todos continuam dando conta da vida dos outros.
Na verdade, não existe sigilo. Nem telefônico, nem fiscal, nem bancário. Na época das locadoras, foram bisbilhotar que tipo de filme um candidato à Suprema Corte dos Estados Unidos costumava locar. Um escândalo.
Sobre o assunto, meu colega de fórum Dr. Chaguinhas sempre me ensina que só existe segredo entre duas pessoas. Se um terceiro fica sabendo deixa de ser segredo!
O fato é que foram bisbilhotar o celular da primeira-dama Marcela Temer. A Justiça determinou aos jornais Folha de S.Paulo e O Globo a não veicular textos que tratam do roubo do celular e das contas de e-mail da primeira-dama Marcela Temer. O juiz de primeira instância em Brasília que deu a liminar andou mal. O Egrégio Tribunal de Justiça do DF revogou a medida. O desembargador que cassou a liminar explicou que “não há como consentir que um órgão estatal defina o que a imprensa irá publicar”. Disse ainda que “as relações de imprensa prevalecem sobre as relações de vida privada”.
Para o sábio Dr. Chaguinhas, ao analisar o imbróglio e sempre contra qualquer tipo de censura foi curto e grosso: 
– Quem está na chuva é para se molhar.