Pedro Lucas Lindoso
Quando Alfredo foi apresentado aos pais de Leonor, sua mãe
achou-o “bonzinho”. Já o pai vaticinou que o pior adjetivo para um homem é ser
“bonzinho’”. Não seria um bom marido. Apaixonada, Leonor casou-se com Alfredo.
O rapaz demonstrou realmente ser “bonzinho”. E só.
Nunca deu sorte nos seus negócios e empregos. Houve um tempo
em que as linhas telefônicas no Brasil tinham valor. Em algumas cidades eram
comercializadas por quase mil dólares. Alfredo investiu toda a sua herança
paterna adquirindo linhas telefônicas.
Em um ano, com as privatizações e novas telefonias no
mercado, as linhas era disponibilizadas sem custo para o consumidor. Alfredo vivia dos alugueres dessas linhas.
Foi o primeiro fiasco de vários.
Leonor então começou a fazer doces e salgados para
sobreviver. Uma placa colocada em frente da casa, diligentemente por Alfredo,
se lia: “Aceitam-se encomendas de doces e salgados. Faz-se com esmero e
higiene”.
Alfredo então foi ser gerente de uma locadora de vídeos. Logo
veio a “blockbuster” e as locadoras da cidade fecharam as portas. O dono da
locadora aproveitou para dar um golpe na praça. Fugiu para Miami e sequer pagou
os direitos básicos dos empregados. Incluindo a rescisão de Alfredo.
Após fazer um curso de “emissão de passagens aéreas” no SENAC,
empregou-se numa agência de viagens. Com o advento de vendas de passagens pela
internet, mais uma vez, Alfredo foi dispensado. E Leonor continua aceitando
encomendas, coitada!
Desde então Alfredo dirige um taxi. Depois de alguns anos
conseguiu livra-se do aluguel da placa. Está com um carro relativamente novo.
Todavia as corridas estão cada dia mais raras com a chegada do UBER.
Uma comadre e amiga de Leonor vive sugerindo as coisas mais
mirabolantes e inusitadas para que Alfredo finalmente possa ser bem-sucedido. A
última dela:
– E se vendesse toucas para bebês?
Leonor logo respondeu:
– As crianças começariam a nascer sem cabeça!
Leonor continua com as encomendas, “com esmero e higiene”.