Amigos do Fingidor

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Leitura dramática: Estrela de Belém, uma jornada ao ventre da floresta





Estrela de Belém, uma jornada ao ventre da floresta, nasceu de uma demanda da prefeitura de Santa Isabel do Rio Negro, que está com uma forte atuação na área cultural, a cargo de Bosco das Letras. A ideia era montar um auto de natal, com cores regionais, de modo a proporcionar a identidade da população local com a atividade dramática. O diretor Nonato Tavares foi o encarregado de arregimentar o necessário para viabilizar a solicitação. Tavares contatou com o dramaturgo Zemaria Pinto, que aceitou de pronto o desafio. Detalhe: o tempo era muito exíguo, pois o segundo semestre do ano já estava em curso. Com a primeira parte do texto pronto, o diretor viajou a Santa Isabel, para a escolha de elenco e local da encenação. Infelizmente, entretanto, o projeto não vingou. Não para este ano, pelo menos. Com o texto completo, Nonato e Zemaria resolveram mostrar ao público o resultado do trabalho na forma de leitura do texto. Assim, no próximo sábado, 2 de dezembro, no MUSA do Largo, o diretor e o autor, mais doze atores, estarão promovendo a leitura do auto de natal Estrela de Belém, uma jornada ao ventre da floresta.
A peça divide-se em duas partes: “A viagem” e “O encontro”. A primeira parte se passa dentro do barco apropriadamente chamado “Estrela de Belém”, aquela que, segundo a tradição cristã, guiou os reis magos até a manjedoura onde nascera Jesus. Nesse barco viajam vários personagens. A maioria vai para Santa Isabel do Rio Negro sem saber bem a razão. Começam tensos, mas aos poucos vai se instalando um clima de harmonia dentro do barco, até a chegada à cidade.
A segunda parte mostra o encontro dos viajantes com representantes da população local: o pajé Coaraci e o casal de índios José e Maria, pais da pequena Maria de Jesus. Os nomes dos pais e da criança têm relação clara com o natal; porém, a intenção do texto é passar ideias de valores que vão muito além das religiões: valores humanos, aceitos por todos aqueles que acreditam que o mundo pode ser um lugar de paz entre os povos e entre os indivíduos. Os viajantes fazem oferendas à pequena Jesus e a jovem Manu transforma as falas em canções.
Para quem acompanha a tradição dramática brasileira, o autor, Zemaria Pinto, explica que utilizou a estrutura de Morte e vida Severina, de João Cabral de Mello Neto, publicado em 1955, tanto na divisão em duas partes (viagem e encontro) quanto na forma poemática. Mas enquanto João Cabral faz de seu poema um libelo pela reforma agrária, Zemaria coloca seus personagens no centro dos problemas mais imediatos do século XXI: depressão, solidão, abusos sexuais, fragilização da estrutura familiar etc. Mas a chama da esperança é mantida acesa, com o nascimento de Maria de Jesus – uma alegoria da renovação da vida e da valorização da mulher na sociedade deste novo século.     
(release)