Pedro Lucas Lindoso
A Gramática nos ensina que verbos transitivos são verbos que,
tendo sentido incompleto, necessitam de um complemento verbal para completar o
seu sentido, ou seja, necessitam de um objeto direto e/ou objeto indireto.
Um bom exemplo de verbo transitivo é o verbo reparar.
Realmente, reparamos sempre algo ou alguém. O verbo reparar tem vários
significados: restaurar, consertar, retratar-se, aperfeiçoar, dentre outros.
Mas aqui no Amazonas é muito usado no sentido de “fixar
atenção, observar”. Ou seja, como diz o caboclo: “tomar de conta”.
O guardador de carros nos pergunta ao estacionarmos o carro:
– Posso reparar, doutor?
Meu amigo João Grijó diz que quando havia festas no interior
seus pais sempre lembravam que ele deveria “reparar” sua irmã. É sempre assim.
Os pais, zelosos com suas filhas adolescentes, costumam pedir ao filho mais
velho para não deixar de “reparar” suas irmãs. Podem atribuir a obrigação a
qualquer outra pessoa. Mas a responsabilidade do irmão mais velho é emblemática
e cultural. Principalmente quando um
moço de roupa branca e chapéu se aproximar. Pode ser o boto.
Usa-se muito “reparar” no sentido de olhar.
– Repara só! Diz a mulher a sua comadre, apontando o malfeito
de alguém.
Mas o verbo reparar, no sentido de “observar”, “tomar conta
de alguém” passou a ter um significado especial depois que Maria Luísa, minha
netinha, começou a andar e descobrir as coisas e o mundo.
Ela é uma graça. Inteligente, falante e curiosa. Como não tem
noção ainda de todos os perigos do mundo e das coisas, é preciso que alguém
esteja sempre “reparando” a garotinha.
Outro dia fiquei incumbido de “reparar” Maria Luísa. Pode ser
um pouco cansativo, fisicamente, porque ela gosta de andar de um lado para
outro. Mas é obediente e muito charmosa. Sempre usa laços de fita no cabelo e é
muito vaidosa.
Ora, reparar é um verbo transitivo e nada nos dá mais
contentamento do que “reparar” essa pessoinha tão amada, repleta de fofurice. É
um grande contentamento “reparar” Maria Luísa.