Amigos do Fingidor

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Quem nasce para caba nunca chega a mangangá


Pedro Lucas Lindoso


O mangangá é um inseto de abdome largo e peludo, que tem uma função bastante nobre aqui na Amazônia. É o polinizador das castanheiras! Quem me falou sobre o mangangá foi João Grijó, amigo nascido em Anori, terra do bom açaí.
Ele me disse que o mangangá faz um zumbido alto quando voa e só as fêmeas possuem ferrão inoculador de veneno. Tem cor amarela ou negra e mede uns três centímetros.
Elas geralmente não picam. Só quando provocadas. Mas a picada é muito, muito dolorosa.
Perguntei ao João se ele já tinha sido picado por mangangá. Ele me disse que sim. O mangangá é como uma tucandeira voadora.
– Dói muito. Era rapaz e estava num castanhal quando fui picado. Na bunda! Corri para o rio, desabei. Em meio ao desespero, voltei. Rolava que nem me apercebi. Voltei, corri, caí e levantei. Rodopiei. Como um redemoinho! Parecia coisa do capiroto.
Lembrei-me de Guimarães Rosas que colocou o “demo” no redemoinho. E imaginei a dor do João. Só nós amazonenses temos uma vaga ideia do que seja a dor da tucandeira. E se ele disse que o mangangá era a tucandeira voadora, deve doer muito mesmo.
João Grijó me disse que levou várias bordoadas dos mangangás. E me explicou:
– Elas grudam. Não adianta abanar como se abana mosca ou carapanã. Meu dedo ficou tão, mas tão inchado que não conseguia mover. Ficou enorme. A dor é mesmo indescritível. Tem que correr para a água. E eu corri para o rio. Mas estava um pouco longe. Mas tem que correr. Para qualquer lugar. Tem que continuar correndo porque dói, mano. E muito!
Então o mangangá é como se fosse um tipo de caba, perguntei-lhe.
– Que nada. O mangangá é muito pior que as cabas. Eu conheço cabas. O pessoal do sudeste chama de marimbondo. Teve um cientista da Universidade que veio conversar comigo sobre cabas. O professor chamava as cabas de vespas sociais. Realmente, como ele explicou, as cabas constituem um grupo com elevada riqueza de espécies e muito comum também aqui na nossa região Amazônica.
Após nossa conversa, aprendi uma grande lição com João Grijó: “quem nasce para caba nunca chega a mangangá”.