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quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Aborto como método anticoncepcional: tragédia social dos pobres 3/3



João Bosco Botelho

As dúvidas sobre a data correta para o início da humanização do feto ou o recebimento da alma atravessaram os séculos e chegaram a São Tomás (1225 1274). Esse magistral teólogo sustentou claramente que a animação não ocorria na concepção e que só o aborto de um feto animado era homicídio. A influência aristotélica no tomismo é também sentida na tese da pureza do sêmen, que ao sair do homem tem a intenção natural de formar outro ser igualmente perfeito, isto é, um homem. As circunstâncias desfavoráveis seriam responsáveis pelo nascimento das mulheres, por exemplo, como o vento sul úmido, que origina pessoas com mais líquidos, como as mulheres. A completa renúncia sexual é aceita por São Tomás como a única forma de alcançar a devoção perfeita.
O resultado dessa nova abordagem eclesiástica culminou com a atitude do papa Gregório XIV, apoiado no argumento de teólogos, revogando a Bula de Xisto V (1588), que punia civil e canonicamente todos os que praticassem o aborto em qualquer fase do feto.
A partir dos primeiros anos do século 20, parece não haver dúvidas quanto ao endurecimento da Igreja em relação ao aborto provocado como método anticoncepcional.  A intolerância retornou aos rigores do cristianismo primitivo contido no Didaqué e as consequências seguiram.
O papa Pio XI acabou com a distinção multissecular de feto animado e não-animado, de certa forma retomando a posição de Aristóteles. Por outro lado, pode ter tido importância a industrialização crescente, no Ocidente, e a necessidade de inserir a mulher no mercado de trabalho, já que o aborto provocado em condições precárias e as trágicas consequências alcançavam as mulheres pobres.
O Papa Pio XI, no famoso discurso dirigido aos obstetras, em 1951, enfatizou: “Não há nenhum homem, nenhuma autoridade humana, nenhuma ciência, nenhuma indicação médica, econômica, social e moral, que possa exibir título jurídico válido para dispor direta e deliberadamente de uma vida humana inocente..., visando sua destruição. "
O documento conciliar Gaudium et Spes, considerado progressista em muitos aspectos da ação social da Igreja, manteve a interdição incondicional: "A vida, uma vez concebida, deve ser tutelada com o máximo de cuidado e o aborto, como o infanticídio, são delitos abomináveis".
O mapa do aborto provocado como método anticoncepcional, no mundo, evidencia a tragédia, verdadeiro genocídio selecionado, matando e mutilando mulheres pobres:
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/conteudo_283054.shtml 
Considerando a impressionante mortalidade e morbidade de mulheres pobres, que sob desespero, optam pelo aborto como método anticoncepcional, no Brasil, é necessário intensificar as campanhas de informação e trazer esse assunto à discussão no Parlamento.