Pedro Lucas Lindoso
Minha mãe me repreendia quando eu, menino de calças curtas,
dizia que iria a um lugar e depois rumava para outro. Ela chamava isso de
“emendar caminho”.
A geração que viveu os anos 60 e 70 jamais esquecerá a
emblemática música de Geraldo Vandré – Pra não dizer que não falei das flores.
Sempre que falo ou penso em caminhos, me vem à mente:
Caminhando e
cantando e seguindo a canção.
Somos todos
iguais braços dados ou não...
Há uma outra dessa época:
Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou…
Grande Caetano...
Uma das expressões favoritas de meu amigo Chaguinhas, quando
fica indignado: É o fim da picada! Contou-me que uma vez, aborrecido com um
taxista em Nova Iorque, exclamou:
– It’s the end of the picaede! Claro que ninguém entendeu.
Esse Chaguinhas!
Por falar em Inglês, um dos poemas mais bonitos de Robert
Frost é “A Road not taken”. “A estrada
não viajada”. Ou, como prefiro, "O caminho que não tomei". Vejam os
dois primeiros e os dois últimos versos, no original:
Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.
Há muitas traduções por aí. Nenhuma perfeita. Incluindo esta
minha:
Duas estradas bifurcavam-se no bosque outonal
E lamentando não poder seguir viajando em ambas
Eu escolhi a menos viajada
E esta escolha fez toda a diferença.
Mas ninguém supera Carlos Drummond de Andrade na
profundidade e singeleza destes versos, no festejado poema “No meio do caminho”:
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.
Enfrentando o trânsito infernal das grandes cidades, temos
que ir “cortando caminhos”, muitas vezes por lugares sem muita segurança.
Vivemos montados em carros, mas caminhando como “coelhos automotivos”, por aqui
e por ali, na pressa urbana diária. E ainda nos valendo de aplicativos como o
“waze”, que nos indica a “coelhar” por
onde há menos trânsito.
Felizes os que ainda fazem o “caminho da roça”, na
tranquilidade das pequenas vilas do interior...