Amigos do Fingidor

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Caminhos


Pedro Lucas Lindoso


Minha mãe me repreendia quando eu, menino de calças curtas, dizia que iria a um lugar e depois rumava para outro. Ela chamava isso de “emendar caminho”.
A geração que viveu os anos 60 e 70 jamais esquecerá a emblemática música de Geraldo Vandré – Pra não dizer que não falei das flores. Sempre que falo ou penso em caminhos, me vem à mente:
Caminhando e cantando e seguindo a canção.
Somos todos iguais braços dados ou não...
Há uma outra dessa época:
Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou…
Grande Caetano...
Uma das expressões favoritas de meu amigo Chaguinhas, quando fica indignado: É o fim da picada! Contou-me que uma vez, aborrecido com um taxista em Nova Iorque, exclamou:
– It’s the end of the picaede! Claro que ninguém entendeu. Esse Chaguinhas!
Por falar em Inglês, um dos poemas mais bonitos de Robert Frost é “A Road not taken”.  “A estrada não viajada”. Ou, como prefiro, "O caminho que não tomei". Vejam os dois primeiros e os dois últimos versos, no original:
Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.
Há muitas traduções por aí. Nenhuma perfeita. Incluindo esta minha:
Duas estradas bifurcavam-se no bosque outonal
E lamentando não poder seguir viajando em ambas
Eu escolhi a menos viajada
E esta escolha fez toda a diferença.
Mas ninguém supera Carlos Drummond de Andrade na profundidade e singeleza destes versos, no festejado poema “No meio do caminho”:
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra

Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.

Enfrentando o trânsito infernal das grandes cidades, temos que ir “cortando caminhos”, muitas vezes por lugares sem muita segurança. Vivemos montados em carros, mas caminhando como “coelhos automotivos”, por aqui e por ali, na pressa urbana diária. E ainda nos valendo de aplicativos como o “waze”, que nos indica  a “coelhar” por onde há menos trânsito.
Felizes os que ainda fazem o “caminho da roça”, na tranquilidade das pequenas vilas do interior...