Pedro Lucas Lindoso
Nascido em família católica, fiz primeira comunhão ainda
menino de calças curtas. No catecismo, fui ensinado que pão era alimento
sagrado. A hóstia consagrada só poderia ser tocada pelo sacerdote. Caso a
hóstia caísse do cálice, não se podia pegá-la. Somente o padre. Recebia-se a
comunhão diretamente na boca.
O Concílio do Vaticano II acabou com essa e outras práticas
superadas pelos anos, pelo bom senso e cientificidade. Graças a Deus e ao
grande papa João XXIII, o papa do “aggiornamento”. O concílio modernizou e deu
novos ares à Igreja Católica. Passou-se a poder pegar na hóstia, inclusive para
comungar.
Morávamos na Rua Henrique Martins. O pão era comprado na
padaria da família Grosso, na Avenida Sete de Setembro, perto de casa. Às vezes
me mandavam comprar pão.
– Dois quilos de pão de massa grossa.
Um dia a manteiga parecia rançosa. Joguei o pedaço de pão no
lixo. Uma prima velha de meu pai me repreendeu:
– Não se joga pão fora. É alimento sagrado. Isso é pecado!
Em Brasília, não se falava pão de massa grossa. Quando lá
cheguei e fui comprar pão, a moça da padaria sorriu e perguntou:
– O que é pão de massa grossa?
Levei para casa uma dúzia de “pão francês”.
Em Brasília tem ainda o pão “careca”, para hambúrguer. Aqui
se come como “pão de massa fina”.
Minas Gerais é a terra do pão de queijo. O melhor que já comi
foi na mineira Araxá, terra de dona Beija.
Americano gosta de pão de forma. Já o verdadeiro pão francês,
comprado nas “boulangeries” de Paris, é delicioso. Nada de similar com o nosso
“pão francês”. Mas é aqui na América Latina onde se vê com mais frequência o
francês croissant.
Hoje há uma grande variedade de pães em nosso país. Em São
Paulo come-se um delicioso pão italiano. Tem pão de milho, de batata, de
beterraba, pão de queijo, de chocolate, de canela. Tem o pão caseiro e o pão
natural. Tem o pão brioche e o manteiguinha. E, claro, o prestigiado pão
integral, com grãos e sem grãos. E muitos outros.
Tem até o “pão que o diabo amassou”. Mas esse eu nunca provei
e nem quero. Mas dizem que há gente que já comeu! “Cruz credo”, como diria
minha mãe.
Até hoje fico constrangido em jogar pão no lixo. Vem na minha
mente a reprimenda de que pão é sagrado. Quanta ignorância é repassada às
crianças. Noção equivocada de pecado. A Igreja deveria canonizar Freud. Só ele
explica e nos livra de tanto mal. Amém.
Os nutricionistas de hoje em dia estão
proibindo os gordinhos de comer pão. Descobri que eles têm certa razão. Eu
gosto muito de pão e vejo que realmente engorda. Ouve-se que o trigo que nós
consumimos é transgênico. Não só engorda como faz mal à saúde.
Outros põem a culpa no glúten. Ainda bem que se vende pão sem
glúten. E viva a nossa tapioquinha! Essa sim parece definitivamente abençoada.
É livre do terrível glúten. Espera-se que o agronegócio não invista em
macaxeira transgênica. Deixem a goma de fazer tapioquinha sem glúten, por
favor.
Minha querida tia Idalina diz que esse negócio de glúten e
trigo transgênico é tudo bobagem. E vive dizendo:
– Comigo é assim: Pão, pão; queijo, queijo.
De minha parte, loas a nossa tapioquinha!