Amigos do Fingidor

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Pão, pão; queijo, queijo


Pedro Lucas Lindoso


Nascido em família católica, fiz primeira comunhão ainda menino de calças curtas. No catecismo, fui ensinado que pão era alimento sagrado. A hóstia consagrada só poderia ser tocada pelo sacerdote. Caso a hóstia caísse do cálice, não se podia pegá-la. Somente o padre. Recebia-se a comunhão diretamente na boca.
O Concílio do Vaticano II acabou com essa e outras práticas superadas pelos anos, pelo bom senso e cientificidade. Graças a Deus e ao grande papa João XXIII, o papa do “aggiornamento”. O concílio modernizou e deu novos ares à Igreja Católica. Passou-se a poder pegar na hóstia, inclusive para comungar. 
Morávamos na Rua Henrique Martins. O pão era comprado na padaria da família Grosso, na Avenida Sete de Setembro, perto de casa. Às vezes me mandavam comprar pão.
– Dois quilos de pão de massa grossa.
Um dia a manteiga parecia rançosa. Joguei o pedaço de pão no lixo. Uma prima velha de meu pai me repreendeu:
– Não se joga pão fora. É alimento sagrado. Isso é pecado!
Em Brasília, não se falava pão de massa grossa. Quando lá cheguei e fui comprar pão, a moça da padaria sorriu e perguntou:
– O que é pão de massa grossa?
Levei para casa uma dúzia de “pão francês”.
Em Brasília tem ainda o pão “careca”, para hambúrguer. Aqui se come como “pão de massa fina”.
Minas Gerais é a terra do pão de queijo. O melhor que já comi foi na mineira Araxá, terra de dona Beija.
Americano gosta de pão de forma. Já o verdadeiro pão francês, comprado nas “boulangeries” de Paris, é delicioso. Nada de similar com o nosso “pão francês”. Mas é aqui na América Latina onde se vê com mais frequência o francês croissant. 
Hoje há uma grande variedade de pães em nosso país. Em São Paulo come-se um delicioso pão italiano. Tem pão de milho, de batata, de beterraba, pão de queijo, de chocolate, de canela. Tem o pão caseiro e o pão natural. Tem o pão brioche e o manteiguinha. E, claro, o prestigiado pão integral, com grãos e sem grãos. E muitos outros.
Tem até o “pão que o diabo amassou”. Mas esse eu nunca provei e nem quero. Mas dizem que há gente que já comeu! “Cruz credo”, como diria minha mãe.
Até hoje fico constrangido em jogar pão no lixo. Vem na minha mente a reprimenda de que pão é sagrado. Quanta ignorância é repassada às crianças. Noção equivocada de pecado. A Igreja deveria canonizar Freud. Só ele explica e nos livra de tanto mal. Amém.
     Os nutricionistas de hoje em dia estão proibindo os gordinhos de comer pão. Descobri que eles têm certa razão. Eu gosto muito de pão e vejo que realmente engorda. Ouve-se que o trigo que nós consumimos é transgênico. Não só engorda como faz mal à saúde.
Outros põem a culpa no glúten. Ainda bem que se vende pão sem glúten. E viva a nossa tapioquinha! Essa sim parece definitivamente abençoada. É livre do terrível glúten. Espera-se que o agronegócio não invista em macaxeira transgênica. Deixem a goma de fazer tapioquinha sem glúten, por favor.
Minha querida tia Idalina diz que esse negócio de glúten e trigo transgênico é tudo bobagem. E vive dizendo:
– Comigo é assim: Pão, pão; queijo, queijo.
De minha parte, loas a nossa tapioquinha!