Amigos do Fingidor

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Andar de mãos dadas

 

Pedro Lucas Lindoso

 

 

Quando eu era menino aqui em Manaus, nos anos sessenta, se caminhava de mãos dadas. Não só os casais. Pais e filhos, sobrinhos e tios, irmãos, amigos. Ouvi várias vezes de minha mãe:

– Dê as mãos para sua irmã.

Durante a pandemia estão proibidos abraços, apertos de mão e também andar de mãos dadas. O que acho mais lamentável é não poder cumprimentar os amigos e as pessoas com um aperto de mão.

Jesus curava e expulsava demônios com um simples toque ou a imposição das mãos. Há uma técnica de cura e transmissão de energia chamada Reiki. Sou praticante dessa técnica. Uso muito me autoaplicando.

As mãos transmitem energia. Rezamos com as duas mãos unidas. Os católicos recebem as bênçãos dos sacerdotes com sinais feitos pelas mãos. Um dos momentos mais tocantes da missa é quando os fiéis são convidados a trocar cumprimentos dando-se as mãos. E desejar a paz, em nome do Cristo.  

Dar as mãos é um ato que transmite amizade e fraternidade. Quando nos cumprimentamos e oferecemos um aperto de mão, queremos demonstrar afeto, apoio e segurança. 

Com essa pandemia e com as restrições impostas por receio ao contágio, fico pensando quão essencial são as mãos para os homens, para a nossa humanidade. O cego lê a escrita braile com as mãos. A comunicação com o surdo-mudo é feita com as mãos, por meio da linguagem Libras. Assim, as mãos são fundamentais para essas pessoas com deficiência, tanto auditiva quanto visual.

Por outro lado, as mãos apresentam um dualismo muito forte. As mesmas mãos que acariciam são aquelas que ferem. As mãos que trazem rosas podem trazer um punhal.

 Uma das grandes diferenças entre os humanos e os animais reside no uso das mãos. O homem tem a habilidade de construir coisas, colher frutos, pintar, tocar instrumentos, escrever, manusear objetos e tantas outras coisas, através de perícia e com o uso adequado das mãos.

Infelizmente, o atual surto de corona proibiu o aperto de mão, tão comum em nossas vidas. Mas a criatividade corre solta. Foram inventados o tal “aperto de pés" para usar com os amigos e o “toque de cotovelos”.

Muito chato tudo isso. Quero o fim da pandemia para aglomerar, abraçar, e principalmente oferecer as mãos. Não só para cumprimentos. Nada mais importante do que andar de mãos dadas.