Bésame mucho
Zemaria
Pinto
A
espera não dói, apenas cansa. Mas sei que virás. E se não vieres? E até quando
virás? Até quando estarei te esperando? As interrogações atormentam, sufocam,
humilham. Esperar e desesperar são pontos da uma mesma matriz de incertezas. Tão
próximos e tão distantes. Certeza da tua presença eu só tenho quando me vejo
refletida nos teus olhos. E, no entanto, esse reflexo é fagulha, é estilhaço, é
partícula de invisível poeira que deixa marcas sobre a mesa e mancha minhas
mãos. Por isso, cada vez é sempre a última, porque eu não sei, tu não sabes, onde
estaremos amanhã.
Bésame mucho (1940), de Consuelo Velázquez (México,
1916-2005). Bolero.
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