Amigos do Fingidor

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

A poesia é necessária?


Quase toada

Artemis Veiga (1946-2015)

 

(Para um menino-muito-meu-amigo)

 

 

Creio em ti, menino-vadio

e no teu silêncio puro

só quebrado

pelo pranto sem lágrimas

contido num único soluço

que tua voz não realiza...

 

Creio em ti, menino-grande

e nos teus sonhos encantados

que acalantam

segredos de coisas

eternas

nas curvas turvas

da madrugada...

 

Creio em ti, menino-noturno

e no teu silêncio grave

machucado

por presenças impossíveis

que mastigam

solidões gêmeas

entre gritos estrangulados...

 

Creio em ti, menino-trazverso

e nas tuas tramas

claras e cheias

de palavras perfeitas

urdidas

no riso matreiro

e no hálito de noite

que te inaugura

em azul-grávido

de certezas.