Amigos do Fingidor

quinta-feira, 8 de abril de 2021

A poesia é necessária?

         O meu amor foi embora (Travessia n° 2)

Zemaria Pinto

 

Em memória dos mortos.

Aos sobreviventes.

 

o meu amor foi embora

a noite desceu em mim;

já não sou mais eu, agora,

e no silêncio das horas

quem cantará para mim?

 

o meu amor foi embora

quem cuidará do jardim?

quem podará meus abrolhos,

quem me enxugará os olhos

na noite dentro de mim?

 

partiu de mim em silêncio

na última nau noturna

no rasto da madrugada

foi morar no sete-estrelo

na fronteira do infinito

no lado esquerdo do nada

 

o meu amor foi embora

levando minha esperança

meu desejo, minha fé

sufocando para sempre

minha alma de criança

 

o meu amor foi embora 

fez-se deserto em meu ser

apagou-se o meu sorriso

e na larga travessia

fez-se noite em meu viver*

 

partiu de mim em silêncio

na última nau noturna

no rasto da madrugada

foi morar no sete-estrelo

na fronteira do infinito

no lado esquerdo do nada

 

(*)Verso de Fernando Brant, na canção Travessia (1968), parceria com Milton Nascimento.