Pedro Lucas Lindoso
Gosto
de pensar a Páscoa como uma festa em que celebramos a vida. A natureza se
renova. Jesus ressuscita para nos salvar. E o céu nos brinda com uma
maravilhosa lua cheia.
Quando
eu era menino, a Semana Santa era plena de mistérios. Uma mistura de
sentimentos envolvendo medo, respeito e dúvidas. O alívio vinha mesmo no
domingo de Páscoa, onde parecia que tudo voltava ao normal. Jesus havia
ressuscitado e estava tudo bem. Havia sempre um almoço de família, com festa e
contagiante alegria. Pela noite, a lua cheia como sempre, flutuando no nosso
céu amazônico.
No
Sudeste, há a procissão do fogaréu. Aqui temos a Procissão do Senhor Morto.
Recorda-se o momento em que os discípulos retiram o corpo de Jesus Cristo da cruz
para sepultá-lo. A imagem do Cristo Morto é acompanhada das imagens de Nossa
Senhora, Maria Madalena e João Evangelista. Ano passado não houve a procissão
por conta da pandemia. Esse ano também está suspensa.
A
sexta-feira santa é um dia em que não se come carne. Na mesa do caboclo tem
sempre um peixe. Uma caldeirada ou um
tambaqui assado. Ou mesmo um bacalhau nas casas dos mais abastados. É preciso
respeitar o sofrimento do Cristo. Mas o “peixinho” da sexta-feira é degustado
em família e com alegria. Essa horrível pandemia tem prejudicado esses
encontros.
Numa
dessas sextas-feiras, eu era menino e chovia muito. Como sempre chove em Manaus
nesses dias. Fui tomar banho de chuva. Fiquei de castigo. Ao anoitecer, a chuva
cessa. As pessoas se permitiam colocar cadeiras na calçada e observar a lua
cheia. Não existe Semana Santa sem lua cheia.
São lembranças de infância. Uma Manaus que vivi e que não mais existe.
A
pandemia tem feito muitos estragos em nossos corações. Não houve Natal, não
houve Carnaval. Esse ano também não tem a procissão. A peixada em família está
prejudicada. Não quero saber de novo normal. Quero o normal de volta.
A sexta-feira
santa é sempre baseada na primeira lua cheia após o equinócio da primavera no
Hemisfério Norte e do outono no Hemisfério Sul. Portanto, uma coisa a pandemia
não conseguiu atrapalhar. A lua cheia da Semana Santa. Esse ano ela se mostrou
a nós terráqueos, novamente linda, sem máscaras, radiante. Desafiando o vírus
maldito. A lua cheia é perene e inabalável. E nos traz esperanças em dias
melhores.