Zemaria Pinto
Apoteose: possível conclusão
Arquitetado sobre
uma plataforma combinatória de paródia, alegoria, intertextualidade e
metalinguagem, O amante das amazonas é o retrato expressionista de uma
época, cuja essência, mais de cem anos passados, ainda não foi desvelada na sua
integralidade. Mas, isso seria possível? Só temos certeza de que a aparência é
enganosa, pois acumula discursos que se contrapõem, variando de acordo com os interesses
imediatos. É certo, entretanto, que no texto de Rogel Samuel, narrativa, ambiente
e personagens nos são revelados para muito além da percepção dos sentidos, como
representações inauditas da violência coletiva e do vício individual: deformações
do corpo, da alma e da razão. O mundo em desconcerto, a vida em dissonância. A
realidade fictícia de Samuel não nos dá esperanças para o futuro, mas nos
mostra como fomos no passado e, por analogia, como somos agora.
Misto de romance
de aventura, policial, histórico, indianista e de costumes, O amante das
amazonas estabelece uma ponte entre sua época – agora – e a tradição de
romances sobre a Amazônia, que, afora os autores citados, remonta ao visionário
Gaspar de Carvajal, passa por Júlio Verne, Raul Pompeia, Conan Doyle, Gastão
Cruls, Mário de Andrade e Raul Bopp, além dos autores da região, num diálogo
intertextual que avança muito adiante da relação cômico-trágica, proporcionando
uma visão panorâmica sobre o período, mas com uma perspectiva nova e inovadora,
ressignificando o conceito de romance amazônico.
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