Pedro Lucas Lindoso
Sábado
de Aleluia. Ligo para meu amigo Chaguinhas. Estava em seu sítio. Todo ano
Chaguinhas passa a Semana Santa em sua pequena propriedade na região de Rio
Preto da Eva. E obriga-se a uma vigília. Não necessariamente à vigília Pascal.
Mas a inusitada vigilância de seu galinheiro, para evitar os tradicionais
furtos de galinhas na Semana Santa.
Roubar
galinhas, na madrugada da Sexta-Feira Santa para o Sábado de Aleluia é um
costume antigo. Uma prática ainda frequente em algumas cidades brasileiras.
Aqui em Manaus, e em muitas cidades, tem sido raro, dada a inexistência de
criações devido à urbanização. Diferente de outros tempos em que era comum
criar animais na área urbana. Mas ainda acontece. No interior o costume é mais
presente. Que o diga Chaguinhas.
Segundo
o jovem historiador Fábio Augusto de Carvalho Pedrosa, a explicação para esse
antigo costume se deve à crença de que Jesus, estando morto, ressuscitaria só
no Domingo de Páscoa. Deus não poderia
ver os pecados dos ladrões de galinhas. Assim, seus “crimes” poderiam ser
praticados sem medo ou culpa.
Outra
tradição, essa mais recorrente, é a malhação de Judas, também no Sábado de
Aleluia. Enforca-se um boneco em um poste, normalmente do tamanho de um homem.
Usa-se serragem, trapos ou jornal na confecção. Depois o boneco é estraçalhado
e até mesmo queimado. No Brasil é comum enfeitar o boneco com máscaras ou
placas com o nome de políticos, ou qualquer personalidade não tão bem aceita
pelo povo. A vítima pode ser também um vizinho malquisto. Meu pai proibia essa prática, por considerá-la
ofensiva.
Talvez
a brincadeira mais antipática praticada na Semana Santa é o “serra velha” ou
velho. A vítima idosa recebe a visita dos brincalhões, que se postam diante da
casa da velha ou velho. Começam serrando uma tábua ou lata. Os demais
acompanham o ronco e o ruído da serra em gritos, lamentos e prantos. “Serra a
velha (ou o velho)”, gritam todos. Ninguém gosta da brincadeira. É mau agouro.
Reza a lenda que velho serrado não chega à quaresma seguinte.
O fato
é que gente que cria galinha como Chaguinhas, político ou celebridade malquista
e velho rabugento sofre com os perrengues durante a Semana Santa. Chaguinhas me
relata que, com o país polarizado em disputas ideológicas, as brincadeiras
provocaram brigas e até tiros país afora. Mesmo em plena pandemia!