Sou um mistério
Agostinho Neto (1922-1979)
Sou um mistério.
Vivo as mil
mortes
que todos os dias
morro
fatalmente.
Por todo o mundo
o meu corpo
retalhado
foi espalhado aos
pedaços
em explosões de
ódio
e ambição
e cobiça de
glória.
Perto e longe
continuam
massacrando-me a carne
sempre viva e
crente
no raiar dum dia
que há séculos
espero.
Um dia
que não seja
angústia
nem morte
nem já esperança.
Dia
dum eu-realidade.