Sensual
Gilka Machado
(1893-1980)
Quando, longe de ti, solitária,
medito
neste afeto pagão que envergonhada
oculto,
vem-me às narinas, logo, o perfume
esquisito
que o teu corpo desprende e há no teu
próprio vulto.
A febril confissão deste afeto infinito
há muito que, medrosa, em meus lábios
sepulto;
pois teu lascivo olhar em mim
pregado, fito,
à minha castidade é como que um
insulto.
Se acaso te achas longe, a colossal
barreira
dos protestos que, outrora, eu fizera
a mim mesma
de orgulhosa virtude, erige-se
altaneira.
Mas, se estás ao meu lado, a barreira
desaba,
e sinto da volúpia a ascosa e fria
lesma
minha carne poluir com repugnante
baba...