Amigos do Fingidor

quinta-feira, 1 de julho de 2021

A poesia é necessária?

                   Sensual

Gilka Machado (1893-1980)

 

Quando, longe de ti, solitária, medito

neste afeto pagão que envergonhada oculto,

vem-me às narinas, logo, o perfume esquisito

que o teu corpo desprende e há no teu próprio vulto.

 

A febril confissão deste afeto infinito

há muito que, medrosa, em meus lábios sepulto;

pois teu lascivo olhar em mim pregado, fito,

à minha castidade é como que um insulto.

 

Se acaso te achas longe, a colossal barreira

dos protestos que, outrora, eu fizera a mim mesma

de orgulhosa virtude, erige-se altaneira.

 

Mas, se estás ao meu lado, a barreira desaba,

e sinto da volúpia a ascosa e fria lesma

minha carne poluir com repugnante baba...