Pedro Lucas Lindoso
A intimidade do lar. Esse conceito vai além de simplesmente a residência ou domicílio. É o lugar da convivência familiar. Deve ser protegido. Deve ser indevassável por pessoas indesejáveis.
Antes da era da informática, nos meus dias de menino, havia
as visitas indesejáveis. O melhor exemplo que me vem na memória são os
vendedores de livros e enciclopédias.
Um desses vendedores de enciclopédia adentrou-se em nosso
apartamento quando meus pais estavam viajando. Estávamos sob a guarda de nossa
avó materna. Pois bem, o vendedor entrou e começou a explicar as maravilhas da
enciclopédia BARSA. Minha avó informou a ele que não compraria. Mesmo porque já
havia uma em casa. Ademais, os donos da casa estavam viajando e ela não tinha
como adquirir, mesmo se quisesse.
O rapaz não desistiu. O fato é que minha avó gostava de jogar
paciência no baralho. O rapaz chegou em nossa casa por volta das 6 horas da
tarde. Foi servido o jantar, ouviu-se o noticiário, a novela e nada do rapaz se
retirar. Passava de meia-noite e o rapaz continuava tentando vender a
enciclopédia para minha avó. E ela, inabalável, sentada à mesa, jogando
paciência. De repente o rapaz adormeceu. Ela então levantou-se e pediu ajuda
para pôr o rapaz para fora. Que fosse dormir em sua casa.
Hoje somos invadidos por spam. Há algumas controvérsias sobre o significado.
Há quem diga que é uma sigla para o termo Sending and Posting Advertisement in
Mass. (Enviar e postar publicidade em massa).
Um amigo me disse que spam deriva de spiced ham (presunto
apimentado). E agora? O fato é que se trata dessas mensagens eletrônicas não
solicitadas, enviadas em massa. Nos visitam como nos visitavam os outrora
vendedores de livros, enciclopédias e outros que tais.
São tão incômodos e inconvenientes como os vendedores de antigamente.
Lotam os nossos aparelhos celulares de mensagens.
Quero minha privacidade de volta. Meu lar como meu celular
deve ser sinônimo de intimidade, privacidade. Meu celular deve ser território
onde se abrigam pessoas que eu considero. Contatos em consequência de laços
naturais ou por afinidade. Pessoas as quais tenho em comum o respeito mútuo e a
convivência harmônica.
Quero meu celular como um objeto e um espaço de convivência,
amplo o suficiente para suportar somente os meus amigos e familiares. É o
templo sagrado. Há uma expressão em Inglês que diz “my home is my temple”.
Quero o mesmo para o meu celular. Meu celular, meu templo.