Amigos do Fingidor

terça-feira, 13 de julho de 2021

Meu celular, meu templo

                                                                                 Pedro Lucas Lindoso

 

A intimidade do lar. Esse conceito vai além de simplesmente a residência ou domicílio. É o lugar da convivência familiar. Deve ser protegido. Deve ser indevassável por pessoas indesejáveis.

Antes da era da informática, nos meus dias de menino, havia as visitas indesejáveis. O melhor exemplo que me vem na memória são os vendedores de livros e enciclopédias.

Um desses vendedores de enciclopédia adentrou-se em nosso apartamento quando meus pais estavam viajando. Estávamos sob a guarda de nossa avó materna. Pois bem, o vendedor entrou e começou a explicar as maravilhas da enciclopédia BARSA. Minha avó informou a ele que não compraria. Mesmo porque já havia uma em casa. Ademais, os donos da casa estavam viajando e ela não tinha como adquirir, mesmo se quisesse.

O rapaz não desistiu. O fato é que minha avó gostava de jogar paciência no baralho. O rapaz chegou em nossa casa por volta das 6 horas da tarde. Foi servido o jantar, ouviu-se o noticiário, a novela e nada do rapaz se retirar. Passava de meia-noite e o rapaz continuava tentando vender a enciclopédia para minha avó. E ela, inabalável, sentada à mesa, jogando paciência. De repente o rapaz adormeceu. Ela então levantou-se e pediu ajuda para pôr o rapaz para fora. Que fosse dormir em sua casa.

Hoje somos invadidos por spam.  Há algumas controvérsias sobre o significado. Há quem diga que é uma sigla para o termo Sending and Posting Advertisement in Mass. (Enviar e postar publicidade em massa).

Um amigo me disse que spam deriva de spiced ham (presunto apimentado). E agora? O fato é que se trata dessas mensagens eletrônicas não solicitadas, enviadas em massa. Nos visitam como nos visitavam os outrora vendedores de livros, enciclopédias e outros que tais.

São tão incômodos e inconvenientes como os vendedores de antigamente. Lotam os nossos aparelhos celulares de mensagens.

Quero minha privacidade de volta. Meu lar como meu celular deve ser sinônimo de intimidade, privacidade. Meu celular deve ser território onde se abrigam pessoas que eu considero. Contatos em consequência de laços naturais ou por afinidade. Pessoas as quais tenho em comum o respeito mútuo e a convivência harmônica.

Quero meu celular como um objeto e um espaço de convivência, amplo o suficiente para suportar somente os meus amigos e familiares. É o templo sagrado. Há uma expressão em Inglês que diz “my home is my temple”. Quero o mesmo para o meu celular. Meu celular, meu templo.