Pedro
Lucas Lindoso
Tia
Idalina, famosa amazonense moradora de Copacabana, preside uma Associação de
Senhoras da Terceira Idade. A associação funciona no salão paroquial de uma
igreja católica. Às sextas-feiras, as senhoras se reúnem para um estudo
bíblico. A proposta é ecumênica e todas podem participar, independentemente de
professar o catolicismo. Todas são bem-vindas. Algumas são evangélicas, outras
católicas e há algumas que professam o kardecismo.
Eu acho
isso fantástico. Tia Idalina me diz que nunca houve discussões dogmáticas. O
grupo evita textos bíblicos polêmicos e o evento é sempre um sucesso. Há sempre
um farto lanche no final. Infelizmente, foi tudo interrompido em razão da
triste pandemia.
Tia
Idalina tentou fazer as reuniões virtuais. Mas, infelizmente, não deu certo.
Houve poucas adesões. Idalina acha que as companheiras são muito idosas,
coitadas. A maioria, diferente dela, já passou dos oitenta.
Idalina
insiste que só tem setenta anos. Mas uma pessoa que ouviu pela rádio BBC de
Londres, a Coroação da Rainha Elizabeth II, não pode ter menos de oitenta anos.
Ela me contou que lembra bem da transmissão. “Falhava um pouco, mas ouvimos
tudo”, comentou saudosa. Isso tudo em 2 de junho de 1953, e titia ainda morava
em Manaus.
Mas
voltemos aos problemas da associação. Além da reunião bíblica das sextas, elas
se reúnem para festas de aniversário, juninas, encontros de Natal e celebram as
aniversariantes.
Considerando
que todas estão vacinadas, Idalina achou que poderiam comemorar os 90 anos de
dona Judith. Mas houve um problema. A associação tem 85 associadas. Todas
frequentes. O salão tem capacidade para 100 pessoas. Com as regras sanitárias
pela pandemia, só podem ser convidadas 50.
Tia Idalina estudou a lista várias vezes e burlou as regras. Convidou 70 associadas. Estavam na lista todas as que participam da reunião bíblica das sextas. Foi um dos critérios. Na lista das quinze excluídas estava dona Leopolda. Foi aí que ela errou. Ao saber-se excluída e que haviam setenta convidadas, Leopolda avisou ao padre. Para evitar problemas com a fiscalização, que tem vindo contar quantas pessoas assistem suas missas, o padre cancelou o evento.
Tia
Idalina apelidou Leopolda de mucura. As cariocas quiseram saber o que era
mucura. Idalina explicou:
– Em
Manaus, a gente chama de mucura uma pessoa feia, desconfiada, falsa e
invejosa. A própria Leopolda. Uma mucura
carioca.