Pedro Lucas Lindoso
Não.
Não vou falar do programa de televisão. Anuncia-se mais uma edição. Todo ano
tem sido assim. A expressão “big brother”, o Grande Irmão, é na verdade a
figura principal do livro chamado 1984. Escrito pelo romancista
britânico George Orwell, foi publicado em 1949. A história tem como cenário a
fictícia Oceania. Tudo gira em torno do Grande Irmão. “Quarenta e cinco anos,
de bigodão preto e feições rudemente agradáveis”, assim se apresenta o Big
Brother, o líder máximo. Assumiu o poder depois de uma guerra de escala
mundial.
Cartazes
espalhados pelas ruas mostram a figura bisonha da autoridade suprema e o
slogan: “O Grande Irmão está de olho em você”. E está mesmo, literalmente,
graças às “teletelas”. Espalhadas nos lugares mais diversos.
Pois
bem, o Grande Irmão está aí na sua mão. É o objeto mais usado nos dias de hoje.
É o seu relógio, o seu despertador, seu banco, sua agenda, sua loja, seu
dicionário, sua bússola, seu táxi, seu restaurante, seu correio, sua companhia
aérea, seu álbum de fotos, seu arquivo pessoal. Nada mais nada menos que seu
celular. O seu “big brother”.
Ele
sabe tudo de você. Ele tem tudo seu. Sua vida está na palma de sua mão. Um
casal de amigos de Brasília perguntou-me se há bons restaurantes vegetarianos e
veganos em Manaus. Após rápida consulta nos sites de busca comecei a receber
enorme quantidade de propaganda de restaurantes, livros e produtos veganos e
vegetarianos. O “big brother” achou que eu havia me tornado um vegano.
A
internet, acoplada ao celular, apesar de sua grande utilidade e benefícios,
tornou-se um mundo incontrolável. As informações sobre as pessoas, empresas e
instituições em geral estão disponíveis a toda sorte de uso.
Há
vantagens. Eu recuperei contatos com amigos e ex-colegas. A internet é fonte de
divulgação de conhecimento, mas, infelizmente, de fake news, também. A
exposição sem limites da vida privada, em especial das pessoas mais jovens, é
perigosa. A juventude é ainda mais vulnerável. Todos temos que ter o máximo
cuidado com o que vamos acessar, o que será compartilhado. Temos que conversar
com nossos filhos e netos sobre o perigo de superexposição. A privacidade é um
bem que deve ser preservado. O direito a essa privacidade não pode ser
negligenciado pelo poder público, nem pelos pais, nem tampouco pelos educadores.
Atenção
pessoal. O grande “big brother” encontra-se não só nesse programa de televisão tão
odiado e adorado. O “big brother” está na sua mão. É o seu celular! Cuidado com
ele!