Prelúdio
Jorge
Barbosa (1902–1971)
(Para António Aurélio Gonçalves)
Quando o
descobridor chegou à primeira ilha
nem homens
nus
nem mulheres
nuas
espreitando
inocentes e
medrosos
detrás da
vegetação.
Nem setas
venenosas vindas no ar
nem gritos
de alarme e de guerra
ecoando
pelos montes.
Havia
somente
as aves de
rapina
de garras
afiadas
as aves
marítimas
de voo largo
as aves
canoras
assobiando
inéditas melodias.
E a
vegetação
cujas
sementes vieram presas
nas asas dos
pássaros
ao serem
arrastadas para cá
pelas fúrias
dos temporais.
Quando o
descobridor chegou
e saltou da
proa do escaler varado na praia
enterrando
o pé direito
na areia molhada
e se
persignou
receoso
ainda e surpreso
pensando n’El-Rei
nessa hora
então
nessa hora
inicial
começou a
cumprir-se
este destino
ainda de todos nós.