Amigos do Fingidor

quinta-feira, 9 de junho de 2022

A poesia é necessária?

 

Soneto de espera ou o 1º da morte


Alencar e Silva (1930-2011)

 


De espera e espera sofro-te em meu canto,

em meu verso e nas coisas que te anseiam.

E mais sofrera se te não sonhara

nem crera em tua vinda, anjo noturno

que virás sobre o mar – pássaro, estrela

ou rosa a se elevar na noite pura –

sem outro anúncio a preceder-te, além

do teu hálito fresco sobre o vale

e esta certeza para além do sonho

de que teus olhos de mistério e flamas

descerão de repente em minha espera

e me destruirás para salvar-me:

que os noturnos jardins florescerão

e nos ventos da noite fugiremos.