Pedro Lucas Lindoso
Bruno e
Dom sabiam que o cheiro na mata é totalmente diferente do cheiro das cidades.
Tinham a percepção de que a grandeza e imponência das árvores eram responsáveis
pelo verde refrescante das folhas. O ar das matas é de uma atmosfera que acolhe
cheiros diversos em seus mistérios e exuberância.
Cheiros
de patchuli e priprioca. Mucuracaá,
japana e manjerona. Sem falar no famoso manjericão. Usado por caboclas em banhos
durante as festas de São João. E ainda temos os cheiros de pataqueira e cumaru,
dentre muitos outros. Bruno e Dom lutavam para que esses cheiros não se
transformem em fuligem e cheiro de queimado.
Há
ainda uma planta misteriosa, as aiyãs, cujo cheiro é repelente de fantasmas.
Podem funcionar para afastar memórias e lidar com a dor das perdas. Essas
plantas podem ter muita eficácia neste momento. Não só pela pandemia. Houve a
morte de Bruno e Dom. Tão preocupados na proteção das florestas e dos povos
indígenas.
E o barulho da floresta? As matas escondem sons pouco conhecidos. Bruno e Dom sabiam que a floresta não se cala nunca. Os barulhos podem vir da água. Podem vir de uma calma chuva e ser completamente relaxante. Temos ainda os sons aquáticos de rios e igarapés. Há o barulho emitido pelos pássaros. Sons cativantes que podem ser ouvidos de longas distâncias. Os insetos, os bichos em geral produzem sons.
É
verdade que tudo tem som e que a floresta não se cala nunca. Mas,
paradoxalmente, há o silêncio. Principalmente nos igapós. Onde a vegetação é baixa.
Onde há arbustos, cipós e musgos. Além de bromélias e begônias. E há o
silêncio. Quem nos fala dele é outro conhecedor da floresta, o poeta Thiago de
Mello: “vem escutar os cânticos noturnos / no mágico silêncio do igapó /
coberto por estrelas de esmeralda”.
Quem
sente esse silêncio mágico que se escuta nos igapós, com certeza é capaz de
ouvir estrelas. E pode também se embriagar com os cheiros da floresta e se
deleitar com seus barulhos. Parafraseando as virtudes teologais, a floresta tem
que permanecer com cheiro, barulho e silêncio. Mas o maior destes é o silêncio.
No
silêncio se contempla a natureza. O silêncio é criativo. No silêncio tudo pode
existir. No silêncio pode até haver barulho. No silêncio pode se sentir cheiros
e ouvir a natureza.
Silenciaram
Bruno e Dom.