Amigos do Fingidor

terça-feira, 28 de junho de 2022

Cheiro, barulho e silêncio na floresta

Pedro Lucas Lindoso


Bruno e Dom sabiam que o cheiro na mata é totalmente diferente do cheiro das cidades. Tinham a percepção de que a grandeza e imponência das árvores eram responsáveis pelo verde refrescante das folhas. O ar das matas é de uma atmosfera que acolhe cheiros diversos em seus mistérios e exuberância.

Cheiros de patchuli e priprioca.  Mucuracaá, japana e manjerona. Sem falar no famoso manjericão. Usado por caboclas em banhos durante as festas de São João. E ainda temos os cheiros de pataqueira e cumaru, dentre muitos outros. Bruno e Dom lutavam para que esses cheiros não se transformem em fuligem e cheiro de queimado.

Há ainda uma planta misteriosa, as aiyãs, cujo cheiro é repelente de fantasmas. Podem funcionar para afastar memórias e lidar com a dor das perdas. Essas plantas podem ter muita eficácia neste momento. Não só pela pandemia. Houve a morte de Bruno e Dom. Tão preocupados na proteção das florestas e dos povos indígenas.

E o barulho da floresta? As matas escondem sons pouco conhecidos. Bruno e Dom sabiam que a floresta não se cala nunca. Os barulhos podem vir da água. Podem vir de uma calma chuva e ser completamente relaxante. Temos ainda os sons aquáticos de rios e igarapés. Há o barulho emitido pelos pássaros. Sons cativantes que podem ser ouvidos de longas distâncias. Os insetos, os bichos em geral produzem sons. 

É verdade que tudo tem som e que a floresta não se cala nunca. Mas, paradoxalmente, há o silêncio. Principalmente nos igapós. Onde a vegetação é baixa. Onde há arbustos, cipós e musgos. Além de bromélias e begônias. E há o silêncio. Quem nos fala dele é outro conhecedor da floresta, o poeta Thiago de Mello: “vem escutar os cânticos noturnos / no mágico silêncio do igapó / coberto por estrelas de esmeralda”.

Quem sente esse silêncio mágico que se escuta nos igapós, com certeza é capaz de ouvir estrelas. E pode também se embriagar com os cheiros da floresta e se deleitar com seus barulhos. Parafraseando as virtudes teologais, a floresta tem que permanecer com cheiro, barulho e silêncio. Mas o maior destes é o silêncio.

No silêncio se contempla a natureza. O silêncio é criativo. No silêncio tudo pode existir. No silêncio pode até haver barulho. No silêncio pode se sentir cheiros e ouvir a natureza.

Silenciaram Bruno e Dom.