Amigos do Fingidor

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

A poesia é necessária?

 

50 anos sem Torquato Neto (9/11/1944 – 10/11/1972) 


let’s play that

 

quando eu nasci

um anjo louco

um anjo solto

um anjo torto

veio ler a minha mão

 

não era um anjo barroco

era um anjo muito solto

louco louco muito doido

com asas de avião

 

e eis que o anjo me disse

apertando a minha mão

entre um sorriso de dentes

vai bicho

desafinar o coro dos contentes

 

let’s play that

 

cogito

 

eu sou como sou

pronome

pessoal intransferível

do homem que iniciei

na medida do impossível

 

eu sou como sou

agora

sem grandes segredos dantes

sem grandes secretos dentes

nesta hora

 

eu sou como sou

presente

desferrolhado indecente

feito um pedaço de mim

 

eu sou como sou

vidente

e vivo tranquilamente

todas as horas do fim

 

pra dizer adeus

 

adeus

vou pra não voltar

e onde quer que eu vá

sei que vou sozinho

tão sozinho amor

nem é bom pensar

que eu não volto mais

desse meu caminho

 

ah,

pena eu não saber

como te contar

que o amor foi tanto

e no entanto eu queria dizer

vem

eu só sei dizer

vem

nem que seja só

pra dizer adeus


Torquato Neto, ele mesmo.



Vivendo Nosferato no Brasil (1970), filme de Ivan Cardoso.



Na capa do icônico Panis et Circencis (1968):
Os Mutantes (Sergio, Rita e Arnaldo), Tom Zé,
Caetano (segurando foto de Nara),
Maestro Duprat, Gal, Torquato e
Gil (com a foto de Capinam).