Amigos do Fingidor

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Cidadã sênior

 Pedro Lucas Lindoso

 

Tia Idalina votou em Bolsonaro nas eleições de 2018. A importância dada aos valores familiares e à vida foram primordiais para sua escolha.

A chegada da pandemia e a contínua polarização da sociedade começaram a angustiar Idalina. Ela administra um grupo de Whatzapp familiar. As brigas e desavenças entre os membros começaram a incomodá-la. Ela proibiu assuntos de política no grupo. Sem muito sucesso.

As mortes de familiares e conhecidos durante a pandemia foram motivo de muita tristeza para Idalina. A chegada da vacina foi um alento. Idalina tem um sobrinho que trabalha no Instituto Oswaldo Cruz. Ela o respeita e admira muito. Tudo que ele diz ela acata sem pestanejar.

Uma de suas melhores amigas, dona Maria do Perpétuo Socorro, conhecida como Petinha, decidiu não tomar a vacina. Disse que não iria virar jacaré. Idalina insistiu para que Petinha tomasse a vacina. Ela recusou. Se o presidente não acredita na vacina e não toma, por que tomaria? Era sempre o argumento de Petinha. Que também dizia que usar máscara era besteira.

 Dona Petinha pegou Covid e faleceu em menos de uma semana do diagnóstico. Naquela mesma semana o presidente apareceu sem máscara em aglomerações. Foi a gota d’água. Idalina desde então deixou de ser eleitora de Bolsonaro.

Com o início da campanha eleitoral de 2022, Idalina encantou-se desde logo com a senadora Simone Tebet. Fez até campanha para ela. Pediu votos entre suas amigas e desejou muito que Simone conseguisse ser a tão desejada terceira via.

Com o resultado do primeiro turno, aguardou o posicionamento de sua candidata. Como Simone optou por Lula, ela foi atrás e anunciou que votaria em Lula. 

Uma de suas amigas pró-Bolsonaro lhe disse que Lula ia acabar com banheiros masculino e feminino. Todo mundo vai usar um mesmo banheiro!

Idalina ficou apavorada. Disse que do alto de seus setenta anos não iria se submeter a isso. Usar mictório!

No dia das eleições ficou nervosa. Lembrou-se da Petinha. Não votaria em Bolsonaro. Lembrou-se da estória dos banheiros. Pensou: tenho setenta anos. Não sou obrigada a votar. Ficarei em casa. Sou cidadã sênior.