Pedro Lucas Lindoso
Tia
Idalina votou em Bolsonaro nas eleições de 2018. A importância dada aos valores
familiares e à vida foram primordiais para sua escolha.
A
chegada da pandemia e a contínua polarização da sociedade começaram a angustiar
Idalina. Ela administra um grupo de Whatzapp familiar. As brigas e desavenças
entre os membros começaram a incomodá-la. Ela proibiu assuntos de política no
grupo. Sem muito sucesso.
As
mortes de familiares e conhecidos durante a pandemia foram motivo de muita
tristeza para Idalina. A chegada da vacina foi um alento. Idalina tem um
sobrinho que trabalha no Instituto Oswaldo Cruz. Ela o respeita e admira muito.
Tudo que ele diz ela acata sem pestanejar.
Uma de
suas melhores amigas, dona Maria do Perpétuo Socorro, conhecida como Petinha,
decidiu não tomar a vacina. Disse que não iria virar jacaré. Idalina insistiu
para que Petinha tomasse a vacina. Ela recusou. Se o presidente não acredita na
vacina e não toma, por que tomaria? Era sempre o argumento de Petinha. Que
também dizia que usar máscara era besteira.
Dona Petinha pegou Covid e faleceu em menos de
uma semana do diagnóstico. Naquela mesma semana o presidente apareceu sem
máscara em aglomerações. Foi a gota d’água. Idalina desde então deixou de ser
eleitora de Bolsonaro.
Com o
início da campanha eleitoral de 2022, Idalina encantou-se desde logo com a senadora
Simone Tebet. Fez até campanha para ela. Pediu votos entre suas amigas e
desejou muito que Simone conseguisse ser a tão desejada terceira via.
Com o
resultado do primeiro turno, aguardou o posicionamento de sua candidata. Como
Simone optou por Lula, ela foi atrás e anunciou que votaria em Lula.
Uma de
suas amigas pró-Bolsonaro lhe disse que Lula ia acabar com banheiros masculino
e feminino. Todo mundo vai usar um mesmo banheiro!
Idalina
ficou apavorada. Disse que do alto de seus setenta anos não iria se submeter a
isso. Usar mictório!
No dia
das eleições ficou nervosa. Lembrou-se da Petinha. Não votaria em Bolsonaro.
Lembrou-se da estória dos banheiros. Pensou: tenho setenta anos. Não sou
obrigada a votar. Ficarei em casa. Sou cidadã sênior.