Amigos do Fingidor

terça-feira, 21 de março de 2023

De líquido, bastam nossos rios e nossa chuva

Pedro Lucas Lindoso

 

Uma estagiária de uma empresa do Polo Industrial de Manaus perguntou à gerente de Recursos Humanos se ela teria chances de ser efetivada na empresa. Foi-lhe dito que possivelmente seria contratada, pois seu desempenho era bom. Mas que as contratações dependiam não só do RH, mas também de decisão da diretoria.

A estagiária então perguntou-lhe se, após a efetivação, quanto tempo levaria para ser gerente. A resposta foi um sorriso enigmático. Tudo acontece em seu tempo. Essa foi a breve resposta.

No consultório do dentista ouvi um adolescente reclamar para o colega que ele não havia repassado as fotos da festa do dia anterior. Lembro-me que naquela idade levávamos uma semana para ter as fotos reveladas.

Antigamente, pagava-se as coisas com cheque. Hoje, usamos dinheiro, cartão ou pix. Tudo mais rápido que rapidamente.

De acordo com Zygmunt Bauman, os tempos atuais são de “modernidade líquida”. A sociedade atual seria marcada pela liquidez, volatilidade e fluidez.

O que mais me preocupa é uma certa superficialidade e fragilidade dos relacionamentos afetivos e sexuais. Ouvi de uma jovem bonita e “bem nascida”:

– Vou logo me casar, ter meus filhos, me divorciar e começar a viver minha vida.

O egocentrismo da moça é chocante. Na verdade, ela pensa em mercantilizar as suas relações. Um individualismo anticristão e deplorável. Essa fragilidade nas perspectivas de relações humanas sólidas só acaba gerando incertezas e medos. Essa moça será vítima disso, com certeza.

A tal modernidade líquida nos remete à água. Que não tem forma. É, portanto, de incertezas. Como amazonense estou bastante preocupado com a Reforma Tributária. Não se apresenta uma forma concreta para o modelo Zona Franca. Só há incertezas.

Nós, habitantes de Manaus e dependentes do sistema Zona Franca de Manaus, estamos extremamente carentes de certezas.

E não é só isso. Os amazonenses precisam de proteção e segurança. Sim, estamos com medo. E com muitos e diferentes medos. Tememos não somente a violência urbana. Temos medo das catástrofes naturais, como as recentes tempestades com desabamentos e vítimas fatais. Os jovens temem o desemprego. Todos tememos as epidemias. A covid ainda assusta. A dengue, malária, dentre outras.

Esperamos em breve um modelo sólido e certo para nossa economia e para a Zona Franca. De líquido, bastam nossos rios e nossa chuva.