Lira quebrada
Alberto de Oliveira (1857-1937)
Tomando-a onde a deixei dependurada ao vento,
Sinto não ser mais esta a lira de outros dias,
Em que, somente a amor votado o pensamento,
Livre e acaso feliz, a descansar me ouvias.
Quebrada vem. Rouqueja apenas um lamento;
As rosas com que, ó Musa, inda há pouco a vestias,
Fanam-se nos festões, soltam-se em desalento,
Vão-se. Ironia ou dor crispa-lhe as cordas frias.
Mas inda assim lhe escuto um resquício de notas
Perpassar a gemer, corre-lhe as fibras rotas
O fantasma do som que a alma um dia lhe encheu:
Como de um velho sino o bronze espedaçado
Guarda em cada fragmento o fragmento de um brado,
O eco de um hino, a voz de um canto que morreu...