Amigos do Fingidor

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Cor e preconceito


Pedro Lucas Lindoso


Dia 25 de julho comemora-se o Dia do Escritor. Parece-nos que antigamente era mais fácil esse ofício de lutar com palavras escrevendo-as. Não havia o que hoje se chama de “politicamente correto”. Monteiro Lobato ao descrever Tia Anastácia disse que ela era “negrinha de estimação”. Com certeza não a teria descrito desse modo nos dias de hoje. Ainda bem. As pessoas têm se conscientizado que índios, negros, deficientes, LGBTS e outros segmentos discriminados devem ser respeitados, valorizados e protegidos juridicamente.

A linguagem das metáforas, algumas vezes usando as cores, é perversamente preconceituosa. Tia Idalina tem uma receita que se chama “preto de alma branca”. Trata-se de um bolo de duas camadas, sendo a de cima preta. A outra, branca. Um dos sobrinhos sugeriu que mudasse o nome para bolo Botafogo, em razão das cores preto e branco do time carioca. Há outro quitute com nome de “nega maluca”. A culinária está cheia de nomes inadequados. Parece que a cozinha sempre foi local de racismo explícito.

Conheci um rapaz apelidado de coalhada. O apelido é em razão dele ser branco demais para os padrões manauaras. E azedo porque não gostava muito de banho. Seu irmão era o macaxeira. Ao fazer uma prova quando não nos lembramos de algo dizemos: “Deu um branco”. Seria isso preconceituoso? E ficar branco de susto?

Quando se chega em Cusco, a capital Inca, no Peru, pode-se ver uma grande quantidade de bandeiras arco-íris. O arco-íris está ligado ao sol, um deus importante para os incas. Nada a ver com o movimento gay.

Um nobre de sangue azul poderia ser torcedor do boi garantido? O boi vermelho? Dar o bilhete azul é uma expressão popular que significa demitir do emprego. Parece que nenhuma das cores primárias escapam de alguma idiossincrasia. Amarelar tornou-se uma gíria muito usada para acovardar-se. Seria desrespeitoso aos asiáticos que seriam da raça amarela?

A palavra denegrir pode ser considerada ofensiva aos negros. Na verdade, não deveria. Sua origem etimológica tem origem no latim “denigrare” que significa manchar a reputação de alguém, mas nada relacionado com negro. Em Inglês evoluiu para “denigrate”. É bom evitar o seu uso.

E verde de fome? Uma famosa série americana, “A Princesa de Marte”, do escritor americano Edgard Burroughs, descreveu pela, primeira vez, os marcianos como homens verdes. A série fez tanto sucesso que os marcianos verdes foram eternizados. Seriam os marcianos seres famintos?

Nunca foi tão importante ter cuidado com palavras e expressões para evitar ferir suscetibilidades. Escrever ou dizer algo nem sempre é preciso.