Pedro Lucas Lindoso
Dia 25
de julho comemora-se o Dia do Escritor. Parece-nos que antigamente era mais
fácil esse ofício de lutar com palavras escrevendo-as. Não havia o que hoje se
chama de “politicamente correto”. Monteiro Lobato ao descrever Tia Anastácia
disse que ela era “negrinha de estimação”. Com certeza não a teria descrito
desse modo nos dias de hoje. Ainda bem. As pessoas têm se conscientizado que
índios, negros, deficientes, LGBTS e outros segmentos discriminados devem ser
respeitados, valorizados e protegidos juridicamente.
A
linguagem das metáforas, algumas vezes usando as cores, é perversamente
preconceituosa. Tia Idalina tem uma receita que se chama “preto de alma branca”.
Trata-se de um bolo de duas camadas, sendo a de cima preta. A outra, branca. Um
dos sobrinhos sugeriu que mudasse o nome para bolo Botafogo, em razão das cores
preto e branco do time carioca. Há outro quitute com nome de “nega maluca”. A
culinária está cheia de nomes inadequados. Parece que a cozinha sempre foi local
de racismo explícito.
Conheci
um rapaz apelidado de coalhada. O apelido é em razão dele ser branco demais
para os padrões manauaras. E azedo porque não gostava muito de banho. Seu irmão
era o macaxeira. Ao fazer uma prova quando não nos lembramos de algo dizemos:
“Deu um branco”. Seria isso preconceituoso? E ficar branco de susto?
Quando
se chega em Cusco, a capital Inca, no Peru, pode-se ver uma grande quantidade
de bandeiras arco-íris. O arco-íris está ligado ao sol, um deus importante para
os incas. Nada a ver com o movimento gay.
Um
nobre de sangue azul poderia ser torcedor do boi garantido? O boi vermelho? Dar
o bilhete azul é uma expressão popular que significa demitir do emprego. Parece
que nenhuma das cores primárias escapam de alguma idiossincrasia. Amarelar
tornou-se uma gíria muito usada para acovardar-se. Seria desrespeitoso aos
asiáticos que seriam da raça amarela?
A
palavra denegrir pode ser considerada ofensiva aos negros. Na verdade, não
deveria. Sua origem etimológica tem origem no latim “denigrare” que significa
manchar a reputação de alguém, mas nada relacionado com negro. Em Inglês
evoluiu para “denigrate”. É bom evitar o seu uso.
E verde
de fome? Uma famosa série americana, “A Princesa de Marte”, do escritor
americano Edgard Burroughs, descreveu pela, primeira vez, os marcianos como
homens verdes. A série fez tanto sucesso que os marcianos verdes foram
eternizados. Seriam os marcianos seres famintos?
Nunca
foi tão importante ter cuidado com palavras e expressões para evitar ferir
suscetibilidades. Escrever ou dizer algo nem sempre é preciso.