Amigos do Fingidor

domingo, 16 de maio de 2010

Classificados

.

Jorge Tufic

COLOMBOVO

Era um róbi, mas também um agradável exercício, a mania que sempre tive de por ovos de galinha na posição horizontal. A par disso, talvez por mera vaidade, sem a menor preocupação de explicar que jamais fora possível colocá-los nessa posição unicamente com o auxílio das mãos, quando isto só contribui para o desequilíbrio do corpo em movimento. O “segredo”, afinal, consiste em dar-lhes, com as mãos, o devido apoio mecânico para que possam encontrar o seu exato eixo gravitacional; e, assim, como por mágica, ficarem de pé em qualquer superfície plana, até mesmo no vidro ou na mica de um relógio. Quando passei isso a alguns jovens do bairro de Santo Antonio, em Manaus, todos eles obtiveram sucesso.


LEITURALEM

Leitura não é só de letras. Também de mundo, é. O olhar tem brilhos capazes de penetrar nos abismos, quer das palavras ainda em busca de sentido, quer das coisas. Leia-se um pouco de Sartre, tome-se a carona dos vastos painéis de Fernando Pessoa. Isto é leitura. Ainda mais quando letras e labirintos possam franquear os limites da sedução pelo mito. Com efeito, o mito é a leitura de todos os fenômenos que cercam as possibilidades de um clarão a mais em nossas deambulações metafísicas, aqui onde se toca o mistério, a esperança e a renúncia ao que se mostra fácil e monótono.


O SEBO DOS MORTOS-VIVOS

Precisando adquirir um exemplar de meu livro, publicado em 1999, sob o título de Quando as noites voavam, estive numa livraria de Manaus, e ali me disseram que o preço do mesmo era de 35 reais.

– E o autor, tem desconto presumível?

– Acho que não.

Idêntica parada aconteceu-me em Fortaleza: encontrei meu Curso de Arte Poética ao preço de 35 reais, estando fora de questão a hipótese de qualquer abatimento para o autor da obra.

E não ficou por aí. Já em São Paulo, encontrei num sebo da Paulista um exemplar do meu livro Retrato de Mãe, ao preço de raridade: 60 reais.

Desisti das andanças, vivamente preocupado com o fato de já estar morto há mais de cinquenta anos, e, portanto, sem direito a um desconto de, no mínimo, 20% na compra de meus próprios livros.