Amigos do Fingidor

domingo, 2 de maio de 2010

E.S. (Educação Sexual) 1/2

Allison Leão


Aos doze anos, Felipe de Oliveira Borboleta (F.O.B.) percebeu que estava apto a iniciar atividades sexuais que envolvessem uma pessoa além dele mesmo. Pelas amplas informações obtidas nos livros de ciências, F.O.B. podia reconhecer os sinais de sua plena disposição física. Quanto à disposição psicológica, o conhecimento caseiro, obtido através de incansáveis instruções, o deixava à vontade para determiná-la.

Um dia (era uma sexta-feira), seu pai (psiquiatra) despiu a esposa (ginecologista) em frente ao menino. Para F.O.B., não era novidade alguma ver a mãe assim (se bem que nos últimos meses ela evitasse os antes rotineiros banhos com o filho). Ao som da tranquilizadora Primavera de Grieg, Doutor Papai sentou F.O.B. numa cadeirinha e passou a explanar, demorada e detalhadamente, uma palestra sobre o funcionamento do aparelho reprodutor feminino. Para melhor compreensão às operações concretas típicas da idade do garoto, Doutor Papai desenhou, com incrível perfeição, os órgãos internos na pele nua da barriga de Doutora Mamãe. Quanto aos órgãos externos, obviamente eles já se expunham por sua própria natureza de externalidade. F.O.B. acabava de comer o indigesto mas necessário fruto de sua árvore do conhecimento. Isso aconteceu no dia em que completava 5 anos de idade.

Na semana seguinte, Doutor Papai e Doutora Mamãe trocaram de função. E não houve a necessidade de tantos desenhos. Assim, desde aquela primeira enxurrada de informações e durante anos, semana após semana – sempre às sextas e com tranquilizadoras sinfonias –, a vida de F.O.B. foi um irrefreável acumular de informações. Para não correr riscos com a típica seletividade da memória juvenil, Doutor Papai e Doutora Mamãe entregavam, ao final de cada palestra, um manual ou uma revista científica a F.O.B., a partir de cujo conteúdo se sabatinaria o aprendiz, na semana seguinte. Nestes tempos de AIDS e gravidez precoce, quanto mais e mais cedo os jovens tiverem informações, melhor para a nossa sociedade, repetiam esse irrefutável preceito o Doutor e a Doutora.

Quando a voz de F.O.B. principiou a dar repiques, quando lhe eclodiram as primeiras espinhas, quando os braços, longuíssimos e desajeitados, pareceram pertencer a outra pessoa e quando a polução noturna ficou mais frequente, não havia dúvida: por decisão própria, F.O.B. foi a uma drogaria e comprou seu primeiro pacote de camisinhas. Erotic – testadas eletronicamente.

F.O.B. sabia que estava preparado, mas o resto do mundo parecia sequer desconfiar de sua plenipotência sexual. Mesmo assim, não se desesperou, pois os manuais diziam que tais eventos são de grande importância na vida de um jovem e que exatamente por isso devem ocorrer naturalmente. E, naturalmente, seguindo o que diziam os manuais, F.O.B. aguardou o grande momento. Até lá, ficaria a camisinha Erotic no bolso, inseparável; sua iniciação, pensava F.O.B., era mais do que iminente. Enquanto isso, nosso pequeno homem não descuidava de cultivar uma penugem no queixo, que passava por cavanhaque, como um aviso de masculinidade e prontidão para as fêmeas.

Mas eis que aos quinze anos cá estava F.O.B. tão virgem como quando nascera. Permanecia à espera do grandioso acontecimento natural. Consultara várias vezes os manuais, mas eles eram sempre muito vagos sobre a data específica do evento. Uns diziam que por volta dos 12 anos. Outros, até os 18. Na escola, nas aulas de Ensino Religioso, o professor enfatizava a preservação da castidade até o casamento. Felizmente, essa opinião não contava para F.O.B., pois nela não havia a menor sombra de base científica.

A espera ficou mais angustiante quando F.O.B. foi matriculado no Instituto de Educação, último estabelecimento de ensino laico na cidade a conservar o rigor e a disciplina do estudo. Felizmente ou infelizmente para F.O.B., a população feminina era maioria esmagadora no Instituto. E mais esmagado ele sentiu-se ainda ao conhecer Aseta Michele dos Anjos (A.M.A.).

(Conclui no próximo domingo, 09/05)