Amigos do Fingidor

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Processos históricos na ética médica (6/7)

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João Bosco Botelho


7. No renascimento europeu

Alguns acontecimentos marcaram o Renascimento como um novo tempo na Europa, interferindo diretamente na ética médica oriunda do medievo:

– Publicação mecanizada dos livros;

– Ruptura com as interdições eclesiásticas: dissecação pública de corpos humanos;

– Teatros de anatomia em vários reinos europeus;

– Publicação do livro De humani corporis fabrica, de André Vesálio;

– Publicação do livro A cirurgia, de Ambroise Paré;

– Publicação do livro Christianismno restitutio, de Miguel Servet, contestanto a veracidade da Trindade Cristã;

– Publicação do livro De viscerum structura, de Marcelo Malpighi, descrevendo o mundo somente visível sob as lentes de aumento, iniciando o pensamento micrológico, que pode ser considerado o segundo corte epistemológico da Medicina;

– Ampliação das fronteiras com a chegada dos europeus nas Américas, Ásia e áfrica.

Entre outras singularidades do Renascimento, se destaca a vontade coletiva de retomar os ideários políticos da Grécia platônico-aristotélica. Desse modo, inicia-se outra fase da ética médica sob menor influência dos dogmas do cristianismo medieval. Portanto, a ética médica renascentista se adaptará às liberdades chegadas com o Renascimento.

– Importante e decisiva procura da materialidade da doença;

– Retomada das diretrizes teóricas da Medicina greco-romana;

– Diminuição do valor atribuído aos santuários curadores;

– Aumento do número de médicos oriundos das novas universidades;

– Maior participação de médicos laicos no processo formador da Medicina;

– Livros escritos em latim;

– Presença de geniais pintores e escultores, como Michelangelo, Leonardo da Vinci, Rembrandt, entre outros, detalhando nas obras de artes o corpo desnudo;

– Maior acesso aos livros produzidos no período greco-romano;

– Desenvolvimento da anatomia e da fisiologia;

– Substituição das confrarias, sob a guarda dos respectivos santos protetores – como a dos cirurgiões, sob a proteção de São Cosme e São Damião – pelos Colégios e Academias laicos, como o Royal College of Surgeons, em Londres, e a Academia de Ciências, em Paris;

– Cirurgia incorporada à Medicina;

– Forte recuo da compreensão da doença como mal, provocada pela fúria divina.

No Renascimento europeu, enquanto a Medicina ampliava os domínios da compreensão da saúde, foi consolidada a busca da materialidade da doença sob o estandarte da micrologia.