Amigos do Fingidor

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Estelionato editorial

Zemaria Pinto


Precisando dar mais consistência a um texto, socorri-me do meu velho exemplar de A origem da tragédia (Lisboa: Guimarães, 1988), tradução de Álvaro Ribeiro. Mas assim como fiz há pouco tempo com o Zaratustra, resolvi que estava na hora de pegar uma edição mais nova, numa tradução mais “próxima” do original. Encontrei um volume numa velha livraria ali da 24 de maio. Uma edição brasileira, da Centauro, 2004. Olhei rapidamente o nome do tradutor na própria ficha bibliográfica, e, constatando que era outro, levei o livro.

A edição pirata, da Centauro.
A 5a. edição, de 1988, original.

Somente em casa percebi a fraude: os textos eram rigorosamente iguais. Um fenômeno borgeano, coisa de Pierre Menard.

Olhando com mais calma, vi que o livro novo tinha dois tradutores, um na ficha (Joaquim José de Faria) e outro logo acima (Peter Klaus Ivanov). O Faria aparece também como preparador de originais. E se na Ficha aparece como 5a. edição, mais acima registra-se 12a. edição.
A trapaça.
Clique sobre a figura, para ampliá-la.
O original.

Pra não dizer que os textos eram iguais, algumas tônicas, que valiam para 2004, foram abrasileiradas e eventuais erros da tradução original (que remonta à década de 1950) foram corrigidos.

O capítulo 17: a palavra "absolvidos" não cabe no contexto
O pirata corrigiu o erro original.

























Fala-se tanto em pirataria, mas o que rola no mundo das editoras é de estarrecer. O exemplo acima, depois soube, é um caso muito antigo. Tanto quanto as traduções da Martin Claret.

Quem quiser conhecer mais sobre os meandros escabrosos do mercado editorial brasileiro, leia o blog Não gosto de plágio da Denise Bottmann, tradutora e profunda conhecedora do assunto.