Amigos do Fingidor

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Lavando o pão de cada dia

Candinho       



Onde andam as lavadeiras da Pancada?
                                                          Já não estão entre nós.
                                                                 Feito cigarras, cantaram-se!
                                                              Não sobrou um fio de voz.


O dia acordava com as canções das lavadeiras.
As batidas das roupas despertavam as pedras adormecidas.
As lavadeiras cantavam...  
Cantavam, lavando as manhãs nas suas roupas...
Cantavam, afinando a alegria nas suas melodias...
Cantavam, limpando o cansaço nas suas cantigas... 

Conversavam alto,
Enxaguando as preocupações nas suas conversas.
Conversavam tanto...
Tanto, que até o tempo se acomodava entre as pedras
Pra esperá-las e conversar com elas. 

Enquanto isso,
O sol e o vento, feito meninos, se embalavam nas cordas do varal,
Esperando as roupas para se vestirem com cada uma delas
E enfeitarem o dia com todas as cores. 

Quando iam embora,
Saíam limpos e cheirosos.
Deixando, na tarde e no coração das lavadeiras,
A alegria. 

– Estava lavado o pão de cada dia!

(Poema vencedor do Concurso Manaus e Poesia, promovido pela Academia Amazonense de Letras.)