Amigos do Fingidor

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Curso de Arte Poética


                    Expressar, fazer, comunicar. A expressão depende da língua e da fala, como as árvores dependem da terra e as aves do espaço. Ambas se fundem numa realidade que é o poema, genericamente falando. O maquinismo ilógico do poema, sua funcionalidade arbitrária, porém, devem manter o equilíbrio necessário para evitar que o discurso verbal (ou a interferência direta da fala) sacrifique a emoção, a vivência ou o sentimento que se pretende transmitir. A expressão depende assim, de um certo nível de informação e conhecimento, fatores indispensáveis para que o poeta desenvolva o seu projeto de escritura, sem correr o risco de estar repetindo fórmulas caídas em desuso. No conceito de T. S. Eliot, a “poesia pode, até certo ponto, preservar e até mesmo restaurar a beleza de uma língua; pode e deveria também ajudar a desenvolvê-la, a torná-la tão sutil e precisa nas mais complicadas condições e para as novas finalidades da vida moderna.”

                   O Fiat Lux, dessarte, tornara-se em símbolo de toda a grande descoberta ou invenção. É o fazer (verbo transitivo direto) posteriormente responsável pelo que dá existência ou forma (Deus fez o mundo em seis dias), prolongando-se, daí, numa extensa e complicada galeria de atividades que foram surgindo com o trabalho humano: produzir física ou moralmente; fabricar, manufaturar; produzir intelectualmente; escrever, compor: fazer uma sonata; praticar, obrar, executar, realizar (“Novo Dicionário”, Aurélio Buarque de Holanda, Ed. Nova Fronteira, s/d). Os índios e as crianças se entendem perfeitamente bem, por aquilo que fazem. Para eles, ser e fazer são a mesma coisa (“Existe uma Literatura Amazonense?”, Jorge Tufic, Ed. UBE, Manaus-Am, 1982). São Lucas, XXIII, 3: “fazei tudo o que eles dizem, mas não faças o que eles fazem, porque eles dizem o que se deve fazer e não o fazem.”