Expressar, fazer, comunicar. A
expressão depende da língua e da fala, como as árvores dependem da terra e as
aves do espaço. Ambas se fundem numa realidade que é o poema, genericamente
falando. O maquinismo ilógico do poema, sua funcionalidade arbitrária, porém,
devem manter o equilíbrio necessário para evitar que o discurso verbal (ou a
interferência direta da fala) sacrifique a emoção, a vivência ou o sentimento
que se pretende transmitir. A expressão depende assim, de um certo nível de
informação e conhecimento, fatores indispensáveis para que o poeta desenvolva o
seu projeto de escritura, sem correr o risco de estar repetindo fórmulas caídas
em desuso. No conceito de T. S. Eliot, a “poesia pode, até certo ponto,
preservar e até mesmo restaurar a beleza de uma língua; pode e deveria também
ajudar a desenvolvê-la, a torná-la tão sutil e precisa nas mais complicadas
condições e para as novas finalidades da vida moderna.”
O
Fiat Lux, dessarte, tornara-se em símbolo de toda a grande descoberta ou
invenção. É o fazer (verbo transitivo direto) posteriormente responsável pelo
que dá existência ou forma (Deus fez o mundo em seis dias), prolongando-se,
daí, numa extensa e complicada galeria de atividades que foram surgindo com o
trabalho humano: produzir física ou moralmente; fabricar, manufaturar; produzir
intelectualmente; escrever, compor: fazer uma sonata; praticar, obrar,
executar, realizar (“Novo Dicionário”, Aurélio Buarque de Holanda, Ed. Nova
Fronteira, s/d). Os índios e as crianças se entendem perfeitamente bem, por
aquilo que fazem. Para eles, ser e fazer são a mesma coisa (“Existe uma
Literatura Amazonense?”, Jorge Tufic, Ed. UBE, Manaus-Am, 1982). São Lucas,
XXIII, 3: “fazei tudo o que eles dizem, mas não faças o que eles fazem, porque
eles dizem o que se deve fazer e não o fazem.”