Tainá Vieira
Hola, Luiz! Outro
dia estava a estudar Jorge de Lima e não tinha como não lembrar-me de ti. Invenção de Orfeu, mais precisamente o Canto
IV – Aparições – poema VI : Vinde ó
alma das coisas, evidências,/ cinzas, certezas, ventos, noites, dias,/ rosas
eternas, pedras resignadas,/ que eu vos recebo à porta de meu limbo./ Vinde
esquecidos seres e presenças/ e coisas que eu não sei de tão dormidas./ Graças
numes eternos: vai-se a tarde/ e as corujas esvoaçam nas estradas. Lembrei-me
de ti por que tu gostavas de Jorge de Lima, me disseste isso certa vez, quando
perguntei sobre os poetas brasileiros que tu admiravas. Lembras ?! Gostei
muito do livro, é de uma emoção tão grande que chega a tomar conta da gente,
nossa alma divaga com os versos por toda as existencias planetárias. A
espiritualidade, o misticismo, a miséria de nossa existência, o que realmente
somos. E as referências a Camões e a
Dante que tu também admiravas. É sem
dúvida uma grande obra, ele foi um grande poeta, no tempo dele, da mesma forma
que tu o foste no teu. Sabes, Luiz, eu não ligo quando meus confrades da academia dizem que eu sou nefelibata. E daí que eu
seja?! Eu sou feliz assim, ou melhor, a literatura me faz feliz. E também,
pudera : a literatura é um mundo tão maravilhoso, fantástico, quando eu
leio um poema ou um conto ou romance é como se as minhas infermidades não
existissem, eu sinto-me bem, sinto prazer, eu rio sozinha, choro. Vivo
deveras cada passagem da prosa ou da
poesia. Eu permito que as personagens toquem minha alma, e entrego-me a elas.
Ah, e isso é único, só sentindo para saber, como é que meus confrades iriam
entender isso, eles não têm tal capacidade...
Porque felizmente só os privilegiados sentem e entendem isso. E essa emoção e esse prazer é nos dado somente
por seres iluminados como Jorge de Lima e como Luiz Bacellar.... Bem, é isso,
por hoje não vou mais incomodá-lo. Volto às minhas leituras.