Amigos do Fingidor

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Platônica VIII



Tainá Vieira

 

Hola, Luiz! Outro dia estava a estudar Jorge de Lima e não tinha como não lembrar-me de ti. Invenção de Orfeu, mais precisamente o Canto IV – Aparições – poema VI : Vinde ó alma das coisas, evidências,/ cinzas, certezas, ventos, noites, dias,/ rosas eternas, pedras resignadas,/ que eu vos recebo à porta de meu limbo./ Vinde esquecidos seres e presenças/ e coisas que eu não sei de tão dormidas./ Graças numes eternos: vai-se a tarde/ e as corujas esvoaçam nas estradas. Lembrei-me de ti por que tu gostavas de Jorge de Lima, me disseste isso certa vez, quando perguntei sobre os poetas brasileiros que tu admiravas. Lembras ?! Gostei muito do livro, é de uma emoção tão grande que chega a tomar conta da gente, nossa alma divaga com os versos por toda as existencias planetárias. A espiritualidade, o misticismo, a miséria de nossa existência, o que realmente somos.  E as referências a Camões e a Dante que tu também admiravas. É  sem dúvida uma grande obra, ele foi um grande poeta, no tempo dele, da mesma forma que tu o foste no teu. Sabes, Luiz, eu não ligo quando meus confrades da academia  dizem que eu sou nefelibata. E daí que eu seja?! Eu sou feliz assim, ou melhor, a literatura me faz feliz. E também, pudera : a literatura é um mundo tão maravilhoso, fantástico, quando eu leio um poema ou um conto ou romance é como se as minhas infermidades não existissem, eu sinto-me bem, sinto prazer, eu rio sozinha, choro. Vivo deveras  cada passagem da prosa ou da poesia. Eu permito que as personagens toquem minha alma, e entrego-me a elas. Ah, e isso é único, só sentindo para saber, como é que meus confrades iriam entender isso, eles não têm tal capacidade...  Porque felizmente só os privilegiados sentem e entendem isso.  E essa emoção e esse prazer é nos dado somente por seres iluminados como Jorge de Lima e como Luiz Bacellar.... Bem, é isso, por hoje não vou mais incomodá-lo. Volto às minhas leituras.