João
Bosco Botelho
Após
a terceira guerra púnica, os romanos consolidaram o vasto império no
Mediterrâneo. O espírito legislador romano não deixou de abordar as atividades
médicas. Com a regulamentação romana, os médicos passaram a constituir uma
categoria profissional definida, tanto entre os homens livres como entre os
escravos. As obrigações do médico eram estipuladas pelo Estado, que pagava os
seus serviços profissionais. Sob o império de Adriano, no século II a.C., os
médicos eram dispensados do serviço militar e quase todas as cidades romanas
dispunham de médico oficial.
Em
torno do século IV, a profissão médica foi severamente fiscalizada e foi
instituído rigoroso exame para todos que quisessem exercer a profissão. O império
romano subvencionava os estudantes de medicina, mas, em troca, eram obrigados a
prestar assistência aos pobres. Os médicos foram proibidos de praticar o aborto
e negar o atendimento a qualquer doente, sob risco de castigo corporal e multa.
Nessa mesma época, sob o império de Diocleciano, no ano de 300, um édito do
Imperador impunha como condição para entrar na escola de Medicina a apresentação
de certificado de boa conduta, fornecido pelo comando militar da cidade de
origem.
A
diferenciação entre médicos e cirurgiões foi reforçada e Cícero falava dos
médicos verdadeiros, o que corresponderia aos clínicos gerais de hoje. Em seus
versos, o poeta romano registrou a especialidade médica: Cascelio extirpa ou cura os doentes; tu Igino, queimas os cílios que
irritam os olhos, Eros elimina as tristes cicatrizes dos servos e Hermes goza
de fama de ser o Podalírio das hérnias...
Entre
os médicos romanos, um dos quais mais se destacou foi Galeno, considerado como
o sucessor de Hipócrates e influenciaria de modo marcante a Medicina medieval.
Cláudio
Galeno nasceu em Pérgamo, na Ásia Menor, no ano de 130. Foi sem dúvida o mais
famoso médico do seu tempo. As suas obras, a maioria perdida, abordavam a
anatomia, a fisiologia, a patologia, a sintomatologia e a terapêutica. Estas
obras foram compiladas e publicadas em Veneza no ano 1538 e constituiu o
principal livro de consulta dos médicos medievais.
O
outro médico romano que ficou na História foi Sorano, nascido em Éfeso. Os
escritos de Sorano que foram recuperados são de extrema lucidez e bom senso.
Ele descreveu a existência dos obstetras, uma mistura de práticos e artesãos
especializados, e os aborteiros, que eram punidos pela lei romana quando descobertos.
Entre
as obras de Sorano, destaca-se o Manual de
Ginecologia, que serviu de orientação aos médicos durante quase quinze
séculos, praticamente, sem qualquer contestação. Nessa obra genial, descreveu
com absoluta precisão as posições anormais dos fetos no útero grávido.
Esses
médicos extraordinários viveram no Império Romano, na época em que foi instalado
um competente sistema público de atenção à saúde
A
preocupação com a saúde pública era inquestionável. A Lei das Doze Tábuas que
remonta aos primórdios da República, estabelecia normas para o sepultamento e
queima dos cadáveres fora dos muros da cidade, além da construção dos esgotos. As
autoridades públicas fiscalizavam o cumprimento das normas que regulamentavam a
higiene pública. Os grandes arquitetos romanos, como Vitrúvio, recomendavam a
escolha de lugares ensolarados para a construção das casas.