Amigos do Fingidor

terça-feira, 9 de julho de 2013

Platônica X


Tainá Vieira

 

       Pensar em ti é algo constante comigo. Pensar, lembrar etc. Maior é a vontade de te escrever, mas é tão difícil escrever para ti, é mais difícil ainda escrever sobre ti. Não me sinto preparada, pois desvendar os mistérios dos teus escritos requer muito conhecimento e, também tem que merecer escrever sobre teus pensamentos. E eu não mereço. Bem, outro dia, lá na academia, minha professora de Literatura Amazonense, que por sinal, também é tua admiradora, não sei se propositalmente, ou se foi por que tinha que ser mesmo, num sorteio sobre poetas amazonense para trabalhá-los, ela me meu deu tu, teu poema. Fiquei deveras contente.  Mando-te, uma parte do meu trabalho. Espero que leias e que gostes.

O poeta veste-se

Com seu paletó de brumas/ e suas calças de pedra,/ vai o poeta./ E sobre a cambraia fina/ da camisa de neblina,/ o arco-íris em gravata/ vai atado em nó singelo./ (Um plátano, sobre a prata/da água tranquila do lago,/se debruça só por vê-lo)./Ele leva sobre os ombros/a cachoeira do lago/ (cachecol à moda russa) /levemente debruada/de um fino raio de sol./Vai o poeta/a caminhar pelas serras./ (pelos montes friorentos/mal se espreguiça a manhã) /com seu pullover cinzento/ (feito com lã das colinas) /com seus sapatos de musgo/ (camurça verde dos muros) /com seu chapéu de abas largas/ (grande cumulus escuro)./Mas algo ainda lhe falta/para a elegância completa:/súbito para, se curva,/num gesto sóbrio e perfeito,/um breve floco de nuvens/colhe e prende na lapela. 

        Nesse poema, é possível perceber o uso em demasia da linguagem figurada; o poeta mostra ser conhecedor não apenas das palavras, mas também da Geografia e da Botânica para compor o poema. São os conhecimentos que vão além da própria natureza.  /Com seu paletó de brumas/ e suas calças de pedras/. É o Eu lírico confessional que vai caminhar vestido com um paletó de neblina e uma calça de pedra, um arco-íris é a sua gravata, o cachecol é a cachoeira que jorra água de ilusão e que lhe adorna o pescoço, e mais, o suéter é feito com lãs da colina, prática que remonta às Canções de Amigo na época do Trovadorismo.  Os sapatos são de musgos, seu chapéu é de cúmulos escuros e, para / a elegância completa/, um floco de neve para enfeitar a lapela do paletó de brumas. Bem vestido /vai o poeta caminhar pelas serras,/ pelos montes friorentos.  O Eu lírico vale-se dos elementos da natureza para vestir-se, para adornar seu corpo. O chapéu tem uma referência de superioridade de elegância, pois o mesmo traz a referência da coroa, signo do poder. Como o poeta tem o poder das palavras, a qualidade deste chapéu de “cúmulos”, que são nuvens densas que se formam em ar instável, pois instáveis são as palavras que dão à poesia o caráter dual. Um arco-íris é a sua gravata, que nos remete a um caminho e mediação entre a terra e o céu.

       É a ponte de que se servem os deuses e os heróis, entre o Outro mundo e o nosso. Em algumas culturas o arco-íris é associado ao sol. Na Grécia, o arco-íris é Iris, a mensageira rápida dos deuses. A poesia bacellariana se afasta com uma notável liberdade de “tendências históricas” da poesia. Se fosse preciso usar um rótulo para classificá-la, talvez coubesse “metafísica”. Mas, o que caracteriza a poesia bacellariana é o apuro formal, é a interrogação sobre o destino e uma tentativa de figurar o nexo poético com a aparência do homem-poeta.

      Até onde se pode perceber na poesia bacellariana, tudo nos remete à criação poética. Pode-se crer que na sua poética está a convicção de que a poesia consiste em compor, na ordem das palavras, uma percepção que não se guardaria fora do símbolo poético É a tradução simbólica que preside a sensação de se estar a um passo de tudo o que é essencial através da palavra, por isso, a imposição de alguns símbolos que foram destacados na leitura do texto. Articulam-se na expressão de si mesma, num exercício de transposição em que o eu e seus símbolos espelham-se mutuamente. Tal operação implica tendência radical; a conversão do sujeito, ele mesmo, num símbolo, o maior de todos.

Obs: Pois bem, Luiz, não é o que tu mereces, mas foi o que consegui. Saudações!