Tainá Vieira
Pensar em ti é algo constante comigo. Pensar, lembrar etc. Maior é a
vontade de te escrever, mas é tão difícil escrever para ti, é mais difícil
ainda escrever sobre ti. Não me sinto preparada, pois desvendar os mistérios
dos teus escritos requer muito conhecimento e, também tem que merecer escrever
sobre teus pensamentos. E eu não mereço. Bem, outro dia, lá na academia, minha
professora de Literatura Amazonense, que por sinal, também é tua admiradora,
não sei se propositalmente, ou se foi por que tinha que ser mesmo, num sorteio
sobre poetas amazonense para trabalhá-los, ela me meu deu tu, teu poema. Fiquei
deveras contente. Mando-te, uma parte do
meu trabalho. Espero que leias e que gostes.
O
poeta veste-se
Com seu paletó de brumas/ e suas calças de pedra,/ vai o poeta./ E sobre a cambraia fina/
da camisa de neblina,/ o arco-íris em gravata/
vai atado em nó singelo./ (Um plátano, sobre a prata/da
água tranquila do lago,/se debruça só por vê-lo)./Ele
leva sobre os ombros/a cachoeira do lago/
(cachecol à moda russa) /levemente debruada/de
um fino raio de sol./Vai o poeta/a caminhar pelas serras./
(pelos montes friorentos/mal se espreguiça a manhã) /com
seu pullover
cinzento/ (feito com lã das colinas) /com seus sapatos de musgo/ (camurça
verde dos muros) /com seu chapéu de abas largas/
(grande cumulus escuro)./Mas
algo ainda lhe falta/para a elegância completa:/súbito
para, se curva,/num gesto sóbrio e perfeito,/um
breve floco de nuvens/colhe e prende na lapela.
Nesse poema, é possível perceber o uso em demasia da linguagem figurada;
o poeta mostra ser conhecedor não apenas das palavras, mas também da Geografia
e da Botânica para compor o poema. São os conhecimentos que vão além da própria
natureza. /Com seu paletó de brumas/ e suas calças de pedras/. É o Eu lírico
confessional que vai caminhar vestido com um paletó de neblina e uma calça de
pedra, um arco-íris é a sua gravata, o cachecol é a cachoeira que jorra água de
ilusão e que lhe adorna o pescoço, e mais, o suéter é feito com lãs da colina,
prática que remonta às Canções de Amigo na época do Trovadorismo. Os sapatos são de musgos, seu chapéu é de
cúmulos escuros e, para / a
elegância completa/, um floco de
neve para enfeitar a lapela do paletó de brumas. Bem vestido /vai o poeta caminhar pelas serras,/ pelos montes friorentos. O Eu lírico vale-se dos elementos da
natureza para vestir-se, para adornar seu corpo. O chapéu tem uma referência de
superioridade de elegância, pois o mesmo traz a referência da coroa, signo do
poder. Como o poeta tem o poder das palavras, a qualidade deste chapéu
de “cúmulos”, que são nuvens densas que se formam em ar instável, pois
instáveis são as palavras que dão à poesia o caráter dual. Um arco-íris é a sua
gravata, que nos remete a um caminho e mediação entre a terra e o céu.
É a ponte de que se servem os deuses e os heróis, entre o Outro mundo e
o nosso. Em algumas culturas o arco-íris é associado ao sol. Na Grécia, o
arco-íris é Iris, a mensageira rápida dos deuses. A poesia bacellariana se afasta
com uma notável liberdade de “tendências históricas” da poesia. Se fosse
preciso usar um rótulo para classificá-la, talvez coubesse “metafísica”. Mas, o
que caracteriza a poesia bacellariana é o apuro formal, é a interrogação sobre
o destino e uma tentativa de figurar o nexo poético com a aparência do
homem-poeta.
Até onde se pode perceber na poesia bacellariana, tudo nos remete à
criação poética. Pode-se crer que na sua poética está a convicção de que a
poesia consiste em compor, na ordem das palavras, uma percepção que não se
guardaria fora do símbolo poético É a tradução simbólica que preside a sensação
de se estar a um passo de tudo o que é essencial através da palavra, por isso,
a imposição de alguns símbolos que foram destacados na leitura do texto.
Articulam-se na expressão de si mesma, num exercício de transposição em que o
eu e seus símbolos espelham-se mutuamente. Tal operação implica tendência
radical; a conversão do sujeito, ele mesmo, num símbolo, o maior de todos.
Obs:
Pois bem, Luiz, não é o que tu mereces, mas foi o que consegui. Saudações!