Amigos do Fingidor

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Lábios que beijei 23


Zemaria Pinto
Olga


Beleza não era exatamente o forte de Olga, embora feia não fosse. Pequena, roliça, bunda e peitos fartos, cabelos crespos cheios – o que depois chamariam de “black power” –, a janela de Olga ficava bem em frente à minha, separada pelo movimento lento da ensolarada rua de barro. Aos poucos, fomos nos tornando íntimos e acendendo o desejo do encontro dos corpos. A primeira vez deu-se num quarto sórdido, a cama manchada do sangue de Olga. Inexperientes, nossos encontros eram sempre muito tensos, especialmente quando tentávamos reproduzir o que conhecíamos apenas de sugestões.  A lembrança de Olga e sua coma me vem envolta em uma bruma da qual ela emergirá com o sol das tardes de outubro, para me doar sua juventude e me amar sem pressa.