Zemaria Pinto
Olga
Beleza não era
exatamente o forte de Olga, embora feia não fosse. Pequena, roliça, bunda e
peitos fartos, cabelos crespos cheios – o que depois chamariam de “black power”
–, a janela de Olga ficava bem em frente à minha, separada pelo movimento lento
da ensolarada rua de barro. Aos poucos, fomos nos tornando íntimos e acendendo
o desejo do encontro dos corpos. A primeira vez deu-se num quarto sórdido, a
cama manchada do sangue de Olga. Inexperientes, nossos encontros eram sempre
muito tensos, especialmente quando tentávamos reproduzir o que conhecíamos
apenas de sugestões. A lembrança de Olga
e sua coma me vem envolta em uma bruma da qual ela emergirá com o sol das
tardes de outubro, para me doar sua juventude e me amar sem pressa.